“AMOR no CAOS AÉREO”

“Quem espera sempre alcança”...

Se o idiota que cunhou esse adágio dependesse de avião tupiniquim...

ao certo, teria dito: “Quem espera, sempre CANSA”!

Depois de mais de uma hora de atraso do vôo das 19:44h, travou-se o diáologo seguinte (de triste memória) :

- Senhor! A aeronave já se encontra em solo...

- Jáaa! Mas em solo Iraquiano ou no desta pátria mãe gentil?!...

Um e dois e três segundos de um silêncio asfixiante, e ...

E minha ironia foi humilhantemente rechaçada...

Pelo amarelo desbotado do sorriso escapulido da face da atendente da tantan, cujo semblante ostentava uma irritante serenidade...

Serenidade de monge franciscano ao meio dum inferno fumegante, frente ao qual o de Dante mais pareceria uma fogueirinha de São João...

Iludida, por instantes, minha angústia retorna em fúria galopante...

Cavalgando a certeza de que, vez mais, o Código de Defesa do Consumidor foi desprezado e pondo em teste a minha santíssima paciência, ao extremo lindeiro de uma reação física...

Brava gente brasileira!

É o caos generalizado no aeroporto da capital federal, que tem o poder...

O poder de nos idiotizar, de incutir um quê de naturalidade, de conformação, de acovardamento de todos.

Eu incluso...

Que a mim, esfarrapadamente desculpando-me com a vitimização da atendente (ah! coitada: uma miúda arruela na gigantesca máquina emperrada) e, agora, inteiramente dominado (tá tudo dominado!, tá tudo dominado!), reajo gritando, muda e figurativamente, neste recanto...

Mas como isto aqui não é palanque e vossos ouvidos não são penicos...

Vislumbro o lado bom dessa espera, como a chance (rara, pois por aqui frequentemente passo aos empurrões irracionais de minha pressa cotidiana) de relembrar as boas memórias impregnadas neste lugar...

(Chamada para embarque! Ah não, agora é minha forra! Agora não tenho pressa, que me esperem eu concluir o texto, saboreando um cafezinho, acomodado nesta lan house...)

Era abril de 2002...

Aqui eu me aportava, apoderado por uma expectativa juvenil de reencontrar o meu amor, há pouco conhecido...

Na cabeça pululavam preocupações com as reticências e exclamações contidas no longo discurso, mental e meticulosamente elaborado...

Tudo que foi, imediatamente (à visão de ti), deletado para libertar espaço na memória, suficiente para registrar, com toda a riqueza de detalhes, a agudez e as nuanças do brilho ofuscante de teus olhos lindos...

De longe vindo, chegastes antes...

Sentada te encontrei naquela cadeira, que a memória já a acimentou no mesmo lugar, para que a eternidade jamais dali a remova...

O primeiro abraço, primeiro beijo... o taxi para o hotel... o irresistido e furtivo toque em teu seio direito...

Outro beijo, que aos outros todos se ajuntaram, escrevendo uma história...

A nossa história, madura, maravilhosa e longa...

Que a janela deste retalho de lembranças não dá conta de externar, condignamente...

Como a lembrança é a porta da saudade, ela, agora, aqui, a me cutucar...

Retornei em busca de tua presença, mas a cadeira teimosamente se mantinha vazia...

E o vazio em mim, ainda outra vez, me impôs o retorno em vão ao local, em busca de resquícios de teu perfume...

Que de ali se dispersou, mas que aqui, no lado esquerdo da alma, reforça a fragrância da saudade...

Saudade de ti...

Ludy: eu te amo...

Bjs

("Se o amor é cego: então precisamos nos apalpar" – veio-me a lembrança marota de então... abruptamente abortada pelo berros aveludados: “última chamada para o vôo 3881 com destino a Curitiba, embarque imediato pelo portão...” Qual é mesmo o portão?!...fui!).

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 15/06/2007
Reeditado em 28/04/2009
Código do texto: T528544
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