FUSCA DESPARECEU NO PICADEIRO DO CIRCO FUMANCHU
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-Não percam hoje a estreia do Circo Fumanchu, com um número de mágica nunca visto no Brasil: um fusca desaparecerá no meio do picadeiro. Esse número nunca foi tentado antes! Era uma voz estranha, que não entendia direito, parecia ser uma mistura de português com o espanhol, um “portenhol” quase perfeito, entendi mais tarde. O fusca era considerado, até então, um carro moderno e quase único tipo existente até que o presidente Itamar Franco, o chamasse de carroça, quando outros tipos de veículos passaram a ser lançados, inclusive o novo fusca, mais moderno.
O anúncio era feito também em um fusca, que andava lento pela Avenida Adalberto Vale, com um enorme alto-falante em seu teto, garantindo o espetáculo começaria “logo mais à noite”. Juntos com a divulgação, vinham elefantes, palhaços e funcionários do circo que estava armado em um terreno baldio, onde hoje fica hoje a “Feira da Betânia”! Eu jogava bola com os colegas, no asfalto recém-colocado na avenida em que morava!
Tinha 12 anos e, como todo menino tolo, carregava um esqueleto esguio de pouco mais de 20 quilos! Fiquei curioso e de noite, coloquei bermuda, vesti camisa e foi conferir o que estava sendo anunciado, não acreditando que um mágico faria sumir um “fusca em pleno picadeiro”. E para onde iria o fusca? De quem seria o carro, do mágico? Eram interrogações que me fazia enquanto caminhava a pé uns 500 metros até o local onde estava armado o circo. Entrei em uma fila, comprei ingresso com a venda de picolé e caminhei por uma longa entrada escura, procurando um tablado em erguido em cima de armações de ferro e sentei em uma tábua de madeira que servia de banco. Era a primeira vez estrava em um circo e fiquei admirando com tudo que via: o picadeiro, os palhaços fazendo piruetas, falando “respeitável público”, fazendo reverências a todo momento com o chapéu que tiravam e colocavam de volta na cabeça.
O que o palhaço falava era igual ao que eu havia escutado na “boca de ferro” em cima do carro, seguido por integrantes do circo e animais que usariam no espetáculo. Era uma forma de espetáculo-marketing-direto. Nervoso, esperava sentado a hora da mágica. E como demorou! Deixaram-no para o final, como último número do espetáculo. Será que era para prender os espectadores que para lá se dirigiram? Talvez sim! Por que sempre deixam sempre para o final, tudo que prende a atenção de alguém? Não sei, mas até em modernos programas de hoje, fazem isso também. Estranho, mas verdadeiro e fácil de constatar na prática diária!
Os tambores rufaram. O número de mágica tão anunciado e esperado pelos espectadores, estava para começar. O Circo Fumanchu talvez fosse uma tradição vinda do século XIX, com as famílias europias, que se agrupavam em guetos e manifestavam sentimentos através de interpretações teatrais, onde não demonstravam apenas interesses individuais e sim, despertavam consciência mútua, mas não tenho certeza. Será que também teria sido essa a origem do Circo? Não sei. Só sei que falavam com uma voz meio estranha, uma mistura que hoje eu sei que era de espanhol com o português.
- Respeitável público, sejam todos bem-vindos ao Circo Fumanchu. Estamos nos preparando e preparando o número final, quando um mágico fará desaparecer um fusca em pleno picadeiro. Os tambores rufaram, arrepiando a mim. Os palhaços retratistas tiravam fotos em binóculo. O fusca apareceu no picadeiro, um pano negro foi colocado em cima e depois de um toque com uma varinha mágica, o pano foi puxado e o fusca não estava mais no picadeiro, para espanto de todos que só faziam perguntas depois do “oh” geral, para onde teria ido o automóvel.
Até hoje “não sei, só sei que foi assim Chicó”, como escreveu o mestre Ariano Suassuna, em sua peça O AUTO DA COMPADECIDA, antes que alguém diga que estou escrevendo sobre um delírio!