TSUMANI

Quando eu era pequena, ou melhor, até pouco tempo atrás esse fenômeno não era tão conhecido e comum. Nunca tinha ouvido falar em Tsunamis, até aquele que atingiu a Tailândia em 2004. Depois desse, outros já aconteceram, incluindo o do Japão no início de 2011. É algo assustador, horrível de se ver. Quase tão horrível quanto um terremoto, ou um furacão, ou uma enchente muito terrível. São fenômenos naturais para os quais as pessoas nunca estão suficientemente preparadas.

Eu sou uma pessoa que vive de lembranças, não só de memórias, mas de lembranças palpáveis. Tenho várias coisas que não uso, mas guardo porque fazem parte de minha história. Amo fotografias, as impressas mesmo, não só digitais. Amo papel, preciso pegar, tocar. Guardo cartas, bilhetes, papel de bala, enfim, um monte de coisas inúteis, mas que são muito significantes para mim. Por essa razão, cada vez que ouço falar desse tipo de tragédia, logo penso nas minha “caixa de lembranças”. Não tenho exatamente uma caixa onde guardo tudo, mas em cada cantinho tenho um pouco dessa “caixa”. Fico pensando em pessoas que perderam seus documentos, suas fotografias, suas cartas, coisas palpáveis de suas lembranças, restando apenas a memória. Muitos perdem nesses desastres pessoas queridas, parentes, amigos, e precisam reconstruir suas vidas com uma ausência tão dolorosa.

RECONSTRUÇÃO. É o movimento que se vê logo após o desastre. As pessoas voltam ao local onde estava sua casa, suas coisas, e tentam resgatar alguma coisa que ainda dê para aproveitar. No caso dos tsumanis, a cena é desesperadora, pois a água leva as coisas embora, tira do lugar, deposita em outro canto que nem dá para se imaginar. E as pessoas se levantam, voltam para o que sobrou de suas referências, e tentam reconstruir suas vidas. É uma coisa muito triste de se imaginar.

Mas eu quero falar de um tipo de tsumani que acontece com muito mais frequência, mas que não aparece nos noticiários. Todos os dias, em vários lugares do planeta, agora mesmo, aqui perto, tsunamis estão acontecendo e nem nos damos conta. É quando o chão é arrancado dos nossos pés e toda a referência que temos some de vista, e precisamos nos adaptar a uma nova realidade, achar forças só Deus sabe de onde e nos levantarmos para reconstruir nossas vidas. Pode ser o diagnóstico de uma doença muito grave, pode ser uma notícia ruim, pode ser a perda de um grande amor, pode ser a perda de um sonho, pode ser a morte de um filho querido. Agora mesmo, enquanto escrevo esta crônica, uma família chora a morte de seu filho de apenas 08 anos. Eu também choro, chorei muito, e já chorei muitas outras vezes, mas nem se compara com a dor dessa mãe e desse pai. Vendo as imagens de um tsunami na televisão, nos compadecemos daquelas pessoas que não conhecemos, mas estão sofrendo. No entanto, não conseguimos saber ao certo o que eles estão sentindo de fato, como estão reagindo em meio ao caos. Só quem vive sabe a dor. Só essa família sabe sua própria dor. Daqui a pouco vou me deitar e dormir, com minha filha e meu marido. Mas há uma família aqui perto de mim que não vai dormir, e acredito que por várias noites não vai dormir. Não posso fazer nada além do que já estou fazendo para aliviar a dor deles. Não posso ajudá-los além de minhas orações.

Cada um tem seu tsunami. Cada um tem seu chão, o alicerce onde seus planos e sonhos são construidos. E todo chão pode ser arrancado dos nossos pés a qualquer momento. Um dia estamos trabalhando, preocupados com os prazos, preocupados com o salário, na correria, e no outro dia nada disso importa mais, pois o nosso alicerce foi abalado, e precisamos parar, olhar os estragos, fazer um balanço, e começar a reconstruir. Muitas vezes não temos tempo para os amigos, para os familiares, para Deus, até que nos damos conta de que isso era na verdade tudo o que importava, a única coisa realmente significante em nossas míseras vidas. Infelizmente, na maioria das vezes, é tarde demais, o tsunami já levou tudo.

No entanto, nem tudo são horrores. Há um alicerce inabalável, que nenhum tsunami, terremoto, furacão ou enchente é capaz de tirar, nem mesmo abalar: JESUS. É onde podemos nos apoiar para conseguir reconstruir o que nos foi arrancado tão drasticamente. É a nossa força e nossa esperança, nosso porto seguro, nossa âncora. Estamos aqui, no mundo, e todas as coisas do mundo podem nos atingir, inclusive tsunamis e terremotos, sejam eles físicos ou emocionais. Mas olhando para o lado correto, olhando para o alto, para a âncora maior, para o alicerce seguro, a pedra angular, conseguimos nos levantar, sacudir a poeira, e recomeçar com uma força que só Deus sabe de onde vem.

Lamede Sarah
Enviado por Lamede Sarah em 12/06/2015
Código do texto: T5275046
Classificação de conteúdo: seguro