Quando a vulnerabilidade se faz presente
Acho muito engraçado o modo em que aprendemos na vida, alguns, em sua maioria mais velhos, dizem que aprendemos mesmo com a experiência, os cabelos brancos, as rugas, quando todo o aspecto físico é ressaltado em prol de uma condição de sabedoria. Outra corrente define que aprender mesmo é teorizar, viver de livros e academicismos escorreitos que nunca atingirão o ápice desse processo vicioso e interminável, mas o que me chama atenção é que não há maior aprendizado do que nas situações de vulnerabilidade, tanto racional quanto emocional ou física.
Nem tudo aquilo que vivemos tem um sentido, escolho pensar assim para não elucubrar em momentos especiais e corriqueiros, atos como receber uma carta ou um telefonema só para expressar um “eu te amo”, esses momentos não tem sentido, não foram previstos, admiro o lado animal de cada ser, que transforma o possível num rompante de vontade e impulsivamente toma a ação, não há coisa mais bela do que deixar o instinto vencer. Confesso que venho me transformando nesse emaranhado de sentimentos e sensações que me colocou em uma catarse que nunca desejo abandonar, confesso que ela tem alguns espaços que são preenchidos pela rotina mesmo que monótona, mas reservo um bom tempo de minhas experiências para o esperar pela epifania.
Esperar... Não faço mais isso, foi esperando pela epifania que caí no limbo, treinando para a ópera que fiquei rouco, tentando dançar que caí. Em tempos de estresse há a tendência natural de nos escondermos, ficarmos acuados, “na defensiva”, talvez seja por puro altruísmo de evitar um extravasamento de emoções ruins, ou talvez puro egoísmo de não querer compartilhar... Em ambos os casos nos fechamos, e fazemos de nós casa de sentimentos pesados, ou, até mesmo, ocultos. Confesso que por circunstâncias mínimas ando assim, um tanto fechado, não nego essa condição mesmo sempre me repreendendo mentalmente, foi o instinto.
E é quando me torno fechado que transbordo, sim, eu tão vazio e vulnerável esperava viver mais um dia desses monótonos e atarefados, esqueci-me de não esperar... Errei, e como quem mais queria no mundo errar levei um tapa, mas foi tão leve e tão íntimo. Quando eu pensava realizar o meu dever de maneira desleixada fui transbordado, ali, eu não era ninguém, eu não usava meu nariz vermelho portanto estava minimamente exposto, eu não tinha pele, portanto estava um tanto nu, com um pudor alinhado com as tendências da sociedade, e fui exposto... Não de uma maneira invasiva, mas com uma sutileza incrível, não com barulhos ou estabanação, mas com silêncio e olhares, e esses me convidavam aos melhores abraços e perdi o peso da rotina, quis transbordar mas não podia, não podia, mas como não espero, transbordei, foi a epifania, e não quis sair dela mas a realidade me puxou de rompante e enxuguei o marejo do olhar, brilharam os olhos verdes de novo.
Prova maior de tudo é que escrevo pois ainda transbordo, uns chamarão de loucura eu estar aqui em tempos de correria e avaliações, alguns mequetrefes julgarão essencial, pois o essencial é mesmo invisível aos olhos. Numa espécie de tentativa um tanto quanto simples de expressar minha sensação mais forte em algum tempo, tentarei agradecer por tudo que tive hoje, a cada bracinho entrelaçado, a cada olhinho brilhante, a cada pergunta de: “você volta quando aqui?”, nada disso pode ser aprendido em teorias, fica meu voto para aqueles que pensam que o aprendizado se dá pela experiência, mas o que dizer de mim que com pouca idade já se sente encantado pelo caminho percorrido? Difícil mesmo é ficar vulnerável, assumir as múltiplas falhas, deixar de esperar... Dias como esse fazem desse coração lugar confiante, marinheiro seguro e experiente que só assente com a cabeça num pulsar vendo na quebrada das ondas o rumo certo de seu barco.
Gabriel Amorim 11/06/2015