INSTINTO
Não dá pra segurar o instinto. Este inquilino vitalício que não paga aluguel nem condomínio anda pelas dependências da nossa razão e emoção com salvo-conduto, entrincheirado no lodo que nos envolve com infinita compulsão. Não dá pra negociar com ele, querer tapeá-lo ou mesmo fingir que não existe. O nosso instinto quebra sua casca pra nascer quando der na sua telha.Talvez seja o nosso grito mais íngreme e feroz, talvez seja o viés da nossa alma mais robusto, mais entrão. O instinto pode ser aliado ou inimigo, pode ser tumor ou sopro divino, pode ser aceno ou empurrão pro precipício. Todos os temos a granel, travestidos muitas vezes de dom ou mesmo de intenção. Achamos que os temos em rédeas, como fiéis servidores das mazelas que escorrem pelos medos, pelas raivas, pelas saudades. Nada disso. Por certo o instinto é soberano nas suas andanças, não tem feitor nem chicote que o faça encurvar, e nem ceder. O nosso instinto é aquela teta farta na qual vamos pedir ajuda quando sentimos o chão se embebedar. É aquela mão aveludada que nos acaricia cada poro da pele e depois hiberna, como hiberna. Se temos a sorte, ou a maldição, de sabermos pensar, certamente o fio condutor das nossas coisas é ele, pode crer. Sem instinto não fecundamos nada, coagulamos cada quinhão do nosso sangue.
-------------------------------
visite o meu site www.vidaescrita.com.br