Na fazenda Curralzinho (Humor)

Dona Nézinha e seu Jofre viviam num lugar de difícil acesso, bem retirado da cidade, na Fazenda Curralzinho. Um dia, houve por lá uma grande infestação de carrapatos, e quase todas as pessoas que por ali vivia foram atacadas. Tamanha era a coceira, que dona Nézinha precisou ser levada ao médico lá na cidade. Seu Jofre, muito preocupado com a saúde da esposa, passou a mão na charrete e lá se foram procurar o doutor.

Aguardaram um pouco na recepção e o médico os fez entrar para examiná-la, pediu que se assentassem e começou a fazer algumas perguntas: Por favor, dona Nézinha, qual é seu endereço? Nois mora La no Currazim, respondeu. Más o médico não entendendo insistiu: qual é mesmo o nome do lugar onde moram? É lá no currazim, dotô. O sinhô já viu falá da fazenda pau bombadu? Sim, já ouvi, respondeu o médico. A Fazenda Pau Bombarda é de um amigo meu. Intão dotô, o pau bombadu fica lá pertim do currazim. E o médico: E onde a senhora nasceu? Eu nasci lá nu currazim! E o senhor, seu Jofre, onde nasceu? Eu tômem sô Du currazim dotô, nois nasceu, si criemu, si casemo, e u povo tudo diz qui inda vai interrà nois lá nu currazim.

Seu Jofre, não seria Curralzinho? Pergunta o médico. Sim dotô é issu memo Currazim. Em seguida, o médico dirige-se a dona Nézinha e diz: Por favor, tire as roupas. Ela, muito acanhada e sem jeito, olha para o marido que também sem jeito ordena: Tira muié, o dotô só qué oiá o cê uai. Então, o médico examinou e logo percebeu que o problema era apenas a falta de um bom banho e pediu que ela vestisse se novamente. Tá venu sua boba, cê tava cu medo atoa, u dotô nem bulinô nu cê. O médico então pega o receituário e anota: tomar banho três vezes ao dia: de manhã, à tarde e a noite. Dona Nézinha, já com a receita na mão, perguntou meio intrigada: Dotô o sinhô botô aqui preu tomá banhu treis veiz nu dia, mais o sinhô si isqueceu di dize si essi tardi banhu é cumprimido, si é argum chá o é injeção? Não, dona Nézinha, banho significa lavar- se com água e sabão. Ah bão doto, agora intindi, mais qué dizê intão qui o sinhô acha qui nóis num si lava lá nu Currazim?

Puis fica u sinhô sabeno dotô: qui nóis e pobre mais nois é limpim. U Currazim é u lugar mais limpu que inziste aqui pur essas banda. U qui aconteceu foi a tar praga di carrapato, qui deu cocera in tudu mundu. Agora tá tudo mundu cum carrapatu nu currazim uai. Mas o povo das fazenda si lava sim uai, principarmente lá no currazim. Tá certu qui nóis num si lava tudu dia, qué pra mordi num gastá muita água, mai tudu saldo de aleluia nois si lava. Ao saírem do consultório, dona Nezinha não se conformava com o atendimento do médico: Eta povo mar inducado, a gente paga um bisurdo, faiz a gente tirá a ropa e mostrá as vergonha preles, e quando caba inda manda a genti ir tomá banhu.

(Idal Coutinho)

IDAL COUTINHO
Enviado por IDAL COUTINHO em 07/06/2015
Reeditado em 07/06/2015
Código do texto: T5268882
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