MEMÓRIAS E SAUDADES DE A NOTÍCIA!
Comentário no link http://carloscostajornalismo.blogspot.com.br/2015/05/memorias-e-saudades-de-noticia.html
Demitido da Saga Publicidade pelo seu diretor e proprietário Alberto Castelo Branco, por incompetência, da função de chefe de mídia, lembrei do jornalista de A NOTÍCIA, Luiz Octávio que, ao visitar-me no escritório do advogado Carlos Abner de Oliveira Rodrigues, no Edifício Cidade de Manaus, onde trabalhara antes como office boy, sempre me pedira para fazer um teste no jornal em que trabalhava: “Já que você gosta tanto de escrever, por que não procura o Editor, o jornalista, Gabriel Andrade e pede para fazer um teste e trabalhar lá?”. Com a proximidade do início do curso de Comunicação Social e desempregado, fui fazer o teste porque como “incompetente” e ex-funcionário da Saga já tinha feito alguns contatos com o Editor, para saber porque determinada mídia programada não saíra no jornal!
De nome, já o conhecia, porque também havia sido Editor de Jornalismo da Rádio Rio Mar e gostava de ouvir quando o locutor dizia ao final da Edição: “Redação, jornalista Gabriel Andrade”. Era meu ídolo sem mesmo saber que eu existia. Com um óculos redondo de grau estilo Jonh Lennon, desempregado e chamado “incompetente”, entrei na Redação e, ao primeiro que encontrei escrevendo uma máquina de escrever, perguntei: “quem é o Gabriel Andrade?”. Dirigi-me até a sua mesa, quase ao final da sala, me apresentei. Disse que era recomendado do jornalista Luiz Octávio e que gostaria de fazer um teste e me propus trabalhar sem receber durante todo o período que durasse o teste. Ele avisou: “em média, dura 90 dias para se medir a capacidade de um calouro novato e, se você estiver disposto, está aceito para começar a trabalhar amanhã”. No dia seguinte, bem cedo, estava lá sem saber o que fazer. O jornalista chegava um pouco tarde porque também ficava até tarde junto com o Editor Geral Bianor Garcia, fazendo as manchetes que todos leriam no dia seguinte e que também já tinha lido quando fui jornaleiro nas ruas de Manaus. Esperei. “O que tenho que fazer?” “Vá para a rua, pegar matéria”. Rua? Onde? “Procure órgãos públicos”. Fui e me apresentava em cada local.
“Eu sou foca do Jornal A Notícia, estou em teste e vim pegar notícias”. Alguns riam de “um foca” inexperiente e destemido e outros me indicavam como fazer. O experiente e competente jornalista Oscar Carneiro, do Jornal do Comércio, foi um deles. Primeiro, procurei a Central de Polícia, o “Casarão”, na Marechal Deodoro, onde conheci o Sr. Joia, (mas não sei se era mesmo esse o nome dele). Como era próximo, em seguida, me dirigi a pé ao Comando-Geral da Polícia Militar e me anunciei. Mandaram procurasse o tenente Assante, chefe da Comunicação Social da PM. O tenente Assante, sempre sorridente, era um gordo bonachão e me recebeu muito bem abrindo o livro de registros da PM e, mais tarde, junto com Oscar Carneiro, me fez credenciado da 5a seção junto ao Comando-Geral e me deu uma credencial que no verso dizia: “Senhores comandantes, o portador pode ter acesso a todas as informações dessa Unidade”. Naquela época, existiam o Comando-Geral, o Comando de Rádio Patrulha, a Companhia de Trânsito e a Companhia de Guarda, Unidades Militares que mais frequentava, para “pegar matérias”. Não foi preciso trabalhar de graça. Em dez dias tive a CTPS assinada e recebi meu primeiro salário. Talvez rissem porque estava começando a usar cabelos grandes, encaracolados e usava barba, o que emprestava o ar de sujeira.
Depois disso, passei a voltar para a Redação no horário da tarde e produzir as sete matérias e algumas vezes até mais do que isso, porque sempre “apanhava informações” pelo telefone com o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, João de Mendonça Furtado e o Secretário de Planejamento no Governo José Lindoso, Sérgio Pessoa Figueiredo, os únicos que me davam e confiavam entrevistas pelo telefone. Sabiam que no dia seguinte leriam o mesmo que haviam dito. De A NOTÍCIA, diziam que se expressem sairia sangue, porque o jornalista Bianor Garcia criava manchetes estapafúrdias de simples fatos. De A CRÍTICA, nada falavam. E assim, fui aprendendo mais com os erros do que com os acertos que cometia, afinal, era meu nome que estava em jogo! Com o passar dos anos ganhei espaço e já era editor da própria página do Judiciário que editava. Ocorreu, nessa época, um Encontro Nacional de Juristas, no Tropical Hotel e viria também o polêmico juiz de menores Alírio Cavalieri, a quem eu admirava. Decidi conhecê-lo e fui assistir a palestra. Depois, com a ajuda do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, no Amazonas, José Paiva Filho, fui entrevistá-lo, seria um furo de reportagem!
Sem máquina fotográfica, caderno de anotação, caneta ou gravador, encontrei com meu ídolo na piscina do Hotel Amazonas, ladeado pelo advogado José Paiva Filho, que a tudo observava de perto. Começamos a conversar e fui memorizando tudo o que o juiz ia me contando. Rápido voltei para o Jornal e comecei a escrever a matéria que não me foi dada oficialmente. No dia seguinte, saiu a manchete com foto de arquivo do juiz e todas suas palavras que me foram ditas no meio da conversa, sem que eu anotasse nada. Dias depois, recebi um telefonema do presidente da OAB do Amazonas, dizendo que o juiz ficara impressionado com o poder de assimilação e síntese e que tinha gostado da entrevista. Fiquei feliz! Trabalhei mais de 6 anos no jornal A NOTÍCIA ao lado de competentes profissionais como, Ray Cunha, Sebastião Reis, Roberto Augusto, Manoel Marques, Lucena “Pau Baru”, Carlos Aguiar, Bianor Garcia, Ivânia Vieira, Terezinha Soares, Luiz Octávio (que se surpreendeu ao ver-me escrevendo matéria). Ivânia Vieira e Terezinha Soares, a primeira ganhadora feminina do prêmio Esso Regional de Jornalismo e Ivânia Vieira, carinhosamente chamada de “Madre Tereza de Calcutá”, porque sempre fora ligada à divulgação de temas da Igreja Católica, andavam sempre juntas; eu e Luiz Octário, também. Com Luiz Octávio, trabalhava o motorista e fotografo, Plutarco, que se dizia, na brincadeira entre amigos e em rodadas de cervejas, que ele seria o “filho da Pluta”, para rizada geral de todos. Mais tarde, outros companheiros também ingressaram, como Antônio Correa. De A NOTÍCIA, diziam que se espremesse sairia sangue. Aceitei convite do empresário Guilherme Aloísio de Oliveira e Silva e me transferi como Editor Geral para o Jornal do Comércio, aos 26 anos, depois de ter sido Editor de página e publicado crônicas e muitas páginas assinadas, inteiras ou duplas. Depois de pouco mais de 3 anos, me transferi para o Diário do Amazonas também como Editor Geral, no qual passei quatro anos, trabalhando de domingo a domingo e sem ter uma falta. Dois ex-senadores pelo Amazonas, João Bosco Ramos de Lima e Fábio Lucena de Pereira Bitencourt, trabalharam em A NOTÍCIA e se transferiram para o Jornal A CRÍTICA. O dono de A NOTÍCIA e ex-deputado federal, Andrade Netto, os considerou como inimigos, porque era quase impensável naquela época se mudar de um jornal para outro, principalmente se fosse para A CRÍTICA, com o qual A NOTÍCIA rivalizava na preferência dos leitores. Havia uma “briga” pela preferência entre os Jornais A NOTÍCIA, com suas manchetes escandalosas e A CRÍTICA, mais conservadora.