O Ponto final para um jovem
Guilherme ou simplesmente “Gui”. Era assim como os seus colegas chamavam-no, fazia parte de um grupinho que jogava futebol naquela praça todos os dias no final da tarde. Não o conhecia bem, porque só frequentava aquele lugar para assistir ao jogo daqueles rapazes, que guardavam consigo um talento imensurável.
Gui em minha opinião, era o mais talentoso, marcava a maioria dos gols do seu time. Todos os dias visitava aquela pracinha para o ver jogar, a forma como ele driblava a bola pelo campo era incrível. Era sem dúvida um garoto que se tivesse oportunidades na vida teria um futuro promissor com o futebol. Mas um dia tudo mudou.
Eram quatro horas da tarde, saia de casa nesse horário para acompanhar o jogo dos rapazes. Naquele dia, algo não estava bom, faltava alguém ou alguma coisa pra dar um brilhantismo ao jogo. Era o Gui. Não o vi nesse dia, pensei que talvez estivesse doente, o semblante dos garotos que jogavam não era o mesmo. Estavam tristes, alguns quase chorando, mas não dei ênfase a isso, ao término do jogo fui para casa e esperei para o dia seguinte, para saber se estava acontecendo algo.
No outro dia, no mesmo horário, voltei à pracinha e não vi nenhum daqueles garotos jogando. Achei estranho. Ao longe pude reconhecer um dos meninos que estava diariamente no campinho da praça a jogar com os colegas. Fui ao seu encontro, o semblante de tristeza em seu rosto era visível. Aproximei-me e disse: - Boa tarde, você é um daqueles rapazes que jogam aqui, né? Ele com os olhos cheios de lágrimas, respondeu: - Sim, sou sim. Perguntei sobre o porquê deles não estarem jogando hoje, e também pelo Gui. A resposta dele tirou-me o chão. – O Gui, foi morto ontem. Quando saia de casa para vim jogar, um tiroteio de frente a sua casa o acertou e ele morreu na hora. Na hora fiquei sem palavras, não o conhecia, mas a sua trajetória como jogador era acompanhada por mim, via ele todos os dias e aquilo me chocou como se fosse alguém da minha família.
Passados alguns dias, assistia um noticiário, e a notícia do tiroteio que vitimou aquele jovem, foi uma das primeiras. Assistindo, via aquela mãe chorando lágrimas de desespero pela perda de mais um filho, o Gui era o terceiro filho dela e o único que ainda a restava. Todos os outros haviam sido mortos.
Guilherme foi mais um jovem morto pela violência que acerca todo o mundo, um garoto que talvez tivesse um futuro promissor, deixou-se levar pelas más influencias que a vida lhe oferecia. Gui não foi o primeiro e nem será o último a ser vítima desse sistema cruel que vitimou e continua a vitimar a vida de vários jovens. Ele tinha um talento enorme, mas talvez pela necessidade, foi levado para o lado obscuro da vida, que guarda consigo apenas duas coisas para os que o procuram: Cadeia ou morte.