A BELEZA NAS CIRANDAS DE MANACAPURU!
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Era apenas um adolescente de 17 anos, com óculos pequeno estilo Jonh Lennon, cabelos encaracolados, sonhando concluir o curso de magistério e ser jornalista. Em 1977, visitei pela primeira vez a cidade de Manacapuru. Adorei visitá-la várias vezes como convidado, palestrante, escritor ou apenas para assistir a Festa das Cirandas, com passos acelerados que deixam qualquer pessoa tonta só em ver os passos rápidos das cirandeiras, como são conhecidas as dançarinas dos Guerreiros Mura, Flor Matizada, as duas principais que se digladiam no tablado onde se apresentam. Mas no final da década de 70, só existiam filiais de Lojas de Manaus, Souza Arnoud, hoje o MEC – Manacapuru Esporte Clube e a Importadora TV Lar, além de outras pequenas empresas locais.
Foi o primeiro lugar que conheci, acompanhado de um grupo de pagodeiros da Praça 14 de Janeiro. Ficamos hospedados no Hotel JK, A cidade, conhecida como a “Princesinha do Solimões”, ontem era apenas calma e aprazível e hoje está bonita e gostosa de se viver, mas talvez esteja um pouco violenta pelos problemas sociais que caminham sempre com o progresso, depois da construção da ponte sobre o Rio Negro, ligando Manaus a três municípios antes pacatos e isolados. Uma das últimas vezes que visitei o município estava acompanhado do empresário José Azevedo e fiquei hospedado no seu apartamento do alto do prédio de sua TV Lar. Era uma cidade calma, ligada a Manaus por uma estrada não asfaltada, aberta pelo sonho visionário de seu filho mais ilustre, o governador do Amazonas (1975/1979), Henock da Silva Reis, nascido em 1907 e falecido no RJ em 1988, filho de um padeiro Lázaro da Silva Reis. Encantado com sua inteligência, o então juiz do município, André Vidal de Araújo, o trouxe para estudar no Colégio Dom Bosco, em Manaus. Nem imagino o que sentiu sua mãe Maria Agra Reis, doméstica, ao se separar de seu filho. Antes, Henock da Silva Reis trabalhara como estafeta na Prefeitura e chegou a ser prefeito da cidade. Formado em direito em 1941, se tornou Ministro do Supremo Tribunal de Recursos (1966/74), depois de ter sido promotor de Justiça, juiz do trabalho e presidente da Junta de Conciliação e Julgamento de Manaus e professor de economia social na Faculdade de Direito do Amazonas.
Na frente do Hotel de três andares JK, na época, o grupo de pagodeiros decidiu se hospedar. Dentro de um coreto, logo abaixo de uma estátua pequena do Cristo Redentor, deslizava para um lado e para o outro, un pirarucu de porte pequeno. Diziam que quando crescia, trocavam-no por outro, mas não se era verdade ou lenda, igual a muitas que correm de boca em boca nos municípios. Só sei que ele quase não crescia, nos anos seguintes em que voltei a Manacapuru. As cirandas ainda não existiam. Subi as escadas até o terceiro andar e apreciei a vista de cima notei o que existia dentro do coreto e desci para apreciar os movimentos suaves do pirarucu, sempre fazendo curvas, para contornar o chafariz. Era um espaço muito pequeno para o tamanho que o pirarucu poderia adquirir, pensei. Disseram-me que quando crescia, trocavam-no por outro, mas não sei era verdade ou lenda, igual a muitas que se escuta de boca em boca nos municípios do Amazonas. Embora em um minúsculo espaço dentro de um coreto pintado de azul, ninguém tinha coragem de removê-lo, porque o delegado PM Cruz era muito respeitado pela sua rigidez e ninguém ia querer passar uma noite preso por ter roubado o pirarucu de um coreto. Quase em frente, havia uma sorveteria e ao lado, na esquina, uma farmácia de dois andares.
O grupo de amigos batuqueiros da Praça 14 de janeiro, entre eles o “Bida”, boleiro dos bons e o Dijé”, balconista de drogaria – muitos outros que não lembro mais - deixou o ônibus e começou a fazer carnaval de graça na praça, contrastando com o carnaval pago que estava havendo no mesmo horário no MEC. Como as pessoas começaram a deixar o Clube pago com destino à Praça para assistir ao show de graça, alguém denunciou e apareceu o Delegado PM Cruz que, ao chegar deu voz de prisão para os que faziam a festa. Contudo, o grupo todo decidiu seguiria junto e ficaríamos todos presos em solidariedade. Na delegacia de polícia, na Rua Eduardo Ribeiro, próximo à sede da Prefeitura, não havia lugar para todos e tínhamos certeza que o delegado Cruz faria outra proposta. E fez: não nos levaria presos se aceitássemos ficar em uma casa de madeira ao lado do cemitério, desde que não fizéssemos mais nenhuma batucada. A casa ficava em uma esquina, próximo a um bar em outra esquina, que também funciona com festas, ao vivo na época. Aceitamos, entramos no ônibus e seguimos todos para o novo local, quente demais e desconfortável também. O Cemitério da cidade ficava ao lado da casa e seria o lugar ideal para dormir sobre as tumbas. Alguns foram, dentre eles eu. Foi à maior farra! Um após o outro, pularam ou passaram por baixo muro e cada um procurou sua melhor tumba para dormir. Sobre as pedras de granito, era mais frio que na casa tombada para um lado que o delegado Cruz nos ofereceu. Mas, alguém que vinha do bar da esquina cambaleante, ao ouvir vozes, gritou: “tem alguma alma penada precisando de reza aqui? Eu vou já chamar o delegado Cruz para ver o que está acontecendo aqui dentro”. Como sabíamos que o Delegado Cruz, na época, se fazia respeitar pelo bem ou pelo mal, decidimos fazer silêncio e deixamos o cemitério e a casa grande também, entramos no ônibus e voltamos para Manaus, sem esperar o delegado Cruz.
No ano de 1982, voltei a Manacapuru para lançar meu primeiro e único livro de poesias (DES)Construção..., na Casa da Cultura, próximo ao Colégio André Vidal de Araújo, ao lado da Igreja da Matriz da Cidade. Foi quando conheci e construí uma longa e duradoura amizade com o que se tornou o mais novo vereador do Brasil, Pedro Palmeiras, aos 19 anos, que depois se tornou empresário, construiu postos de gasolina, implantou rádio e tudo começou atendendo em um flutuante de seu pai no Porto da Cidade. Pedro Palmeiras seria homenageado pelo ex-prefeito Angelus Filgueiras, com o nome de um conjunto habitacional popular. Mas não sei, se ainda vai ocorreu essa construção. Só sei que para mim, frequentar Manacapuru sempre me trouxe gostosas lembranças de um passado que vivi e ainda vivo com intensidade.
Há 10 anos não retorno à Terra das Cirandas!