FUTEBOL PENSADO
Crônica
Não foi sempre assim, contudo hoje não se discute: na Europa pratica-se um futebol infinitamente superior àquele jogado nos outros cantos do globo.
Voltando à frase anterior, atentemo-nos a ela: na Europa se pratica um futebol infinitamente superior àquele jogado nos outros cantos do globo. Pois bem, a frase anterior deixa e quer deixar claro que atualmente se prática um futebol na Europa que é superior àquele jogado em outros continentes. Tal ideia é totalmente distinta, porém, daquela que comumente é expressa por torcedores, jogadores e jornalistas que se dedicam a praticar e a acompanhar o esporte, a saber, os europeus atualmente jogam um futebol muito superior ao praticado em outros continentes. Os mais argutos de imediato conseguem observar a diferença que há entre as duas sentenças. Considerando aqueles cuja argúcia neste caso não funcionou, todavia, explico a diferença que há entre as duas frases.
Afirmar que na Europa se pratica um futebol infinitamente superior àquele jogado nos outros cantos do globo é dizer, implicitamente, que na Europa, protagonizado por atletas europeus ou não europeus, isto é, sul-americanos, africanos, asiáticos etc. joga-se um futebol de tal qualidade que ele é superior àquele apresentado em qualquer outro continente. Sentenciar, contudo, que os europeus atualmente jogam um futebol muito superior ao praticado em outros continentes é afirmar, explicitamente, que na Europa, protagonizado apenas por atletas europeus, joga-se futebol de um nível tal que ele é muito superior em relação àquele jogado em outras partes.
Esclarecido a diferença que há entre os dois enunciados, podemos nos perguntar qual deles está correto, qual deles exprime a verdade. Não há dúvida de que é o primeiro, uma vez que se sabe que atualmente na Europa os protagonistas dos grandes clubes, em sua grande maioria, não nasceram no velho continente. A critério de exemplo, Lionel Messi, que faz mágica com a bola nos pés vestindo a camisa do Barcelona, é argentino, Didier Drogba, aquele que fez até o momento 377 jogos e 163 gols com a camisa do Chelsea, portanto um dos jogadores mais importantes da história do clube, é marfinense, Carlitos Tévez, atualmente semifinalista da liga dos campeões com a Juventus, é argentino, Edison Cavani, um dos principais jogadores de ataque do PSG, é uruguaio. Vários outros exemplos poderiam ser dados, todavia para o propósito aqui tencionado creio que seja suficiente.
Da discussão precedente, contudo, ainda resta um questionamento: por qual motivo, independentemente da nacionalidade dos atletas que lá atuam, pratica-se um futebol de alto nível na Europa enquanto que em outros continentes, como temos visto no nosso, pratica-se um futebol de baixo, às vezes baixíssimo, nível? Creio que a resposta pode ser dada nos seguintes termos: pratica-se o melhor futebol hoje na Europa em função de que lá o jogo é pensado e jogado no seu modo mais difícil, dito de outro modo, as alternativas de jogo que demandam menos reflexão, portanto aquelas mais instintivas, são sempre preteridas. Vontade não basta, é necessário PENSAR! Explica-se assim o fato de vermos raríssimas vezes a linha de defesa dos grandes clubes europeus saírem para o jogo mediante chutões, coisa comum nos gramados brasileiros, seus jogadores de meio-campo protagonizando passes rápidos e triangulações que deixam atacantes de frente com o goleiro adversário, coisa rara no futebol brasileiro, e jogadas individuais de seus craques que encantam os amantes do futebol.
Em síntese, o que faz o futebol europeu ser o melhor atualmente é que lá o jogo fácil, quero dizer chutões, correrias sem propósito, individualidade extrema etc. é preterido em favor de um jogo que demanda mais reflexão do que extinto e vontade, portanto, um jogo deveras mais difícil para quem o pratica. A título de conclusão, é possível afirmar, sem o risco de incorrer em erros, que atualmente na Europa, ao menos nos grandes clubes, jogador que não pensa não tem espaço (isso se estende para outras dimensões, não fica restrito ao futebol).
Rafael Oliveira, Florianópolis 2015.