Ocorrências de cidade pequena
Ocorrências de cidade pequena
Em uma cidade pequena, em uma praça de pouca movimentação, o lugar perfeito para um dedo de prosa.
- Oi Maria, tudo bem?
- Tudo bem sim, Chica, e você?
- Vou levando. E a família tá boa?
- Ai, Chica, meu menino pegou uma gripe que Deus me livre. Mas, no tudo, tá dando certo. E o Antônio? Tá controlando mais a bebida?
- Graças a Deus que tá. Esse mês ainda nem provou, pelo menos é o que ele me diz.
- Tá sabendo da novidade? Parece que a filha do seu Zé Pininga andou se envolvendo com aquele drogadinho lá de baixo, da família dos “faca cega”. Mulher, me disseram que pegaram eles juntos lá na chácara do Bixim, se beijando, na maior coisa. Por um lado a Dona Raimunda tá pagando pela língua que tem.
- Pois num é, Maria. Eu fiquei sabendo dessa história. Dizem que o Zé Pininga foi na casa do rapaz para tirar satisfações, mas receberam ele a tapas. Eu hein! Esse povo gosta de novidade. Tá sabendo que o Chicão roubou o motor da cacimba do seu Toin?
- Foi mesmo, mulher? Dessa aí eu não sabia não. E aí? Como foi?
- Parece que o Seu Valdo ouviu o barulho dos cachorros no quintal, levantou da cama e foi olhar. Quando chegou no quintal deu de cara com o Chicão de motor na mão. O ladrãozinho, muito sabido, meteu o pé na carreira. É o besta! No fim da história, o vagabundo ganhou mais um motor dos vizinhos. Agora ele sumiu, como sempre. Nem tão cedo vai aparecer!
- Menina, ia esquecendo de te contar!
- Diz, Maria!
- Tu conhece o Geovane?
- O filho da Dona Carmita?
- Não, mulher, aquele é o Jean. O Geovane é filho da Raimunda Pires. Lembra?
- Ah! Sei quem é. Qual é a nova?
- Menina, tu nem imagina. Diz aí que ele decidiu sair do armário, postou até foto no face com o namorado, acredita?
- Valha, Jesus!
- A mãe tá tão desconsolada, coitada, que nem sai na rua.
- Deve ser um choque, o filho se assumir assim tão de repente, um menino tão lindo daquele virar baitola. Ai, ai!
- Chica, tenho que ir embora, as crianças tão esperando o almoço.
- Tá bom, Maria. Mande lembrança para o compadre.
- Mando sim. Olha ali Chica, não é a Carmosa entrando na casa da Joana?
- É sim, Maria.
- Já vão bem falar da vida alheia.
- Com certeza!
- Esse povo não tem jeito, Chica.
- Verdade!
- Tchau, mulher, até outro dia!
- Tchau, Maria!