Guerra dos Sexos VI - A Idade do Lobo
Vocês certamente já viram essa expressão. Refere-se ao homem de meia-idade que costuma atravessar um período de transição bem característico. Ocorre por volta dos 40/50 anos. É também conhecida como “síndrome do recomeço”. Sobre esta síndrome, tenho certeza, vocês nunca ouviram falar. É que inventei agora mesmo, apenas para esboçar o cenário narrativo aqui pretendido.
É comum ouvirmos notícias sobre casamentos desfeitos tardiamente. Os filhos crescidos, vida financeira consolidada. Não há histórico de problemas conjugais. De repente, aquele casamento, que parecia perfeito, termina. O marido sai de casa e todo mundo fica sem entender o que aconteceu. Esse é um exemplo típico de evento decorrente da idade do lobo.
O casamento é uma instituição interessante. Quanto mais tempo passa, mas o papel do homem é diminuído. Se a mulher, gradativamente, vai conquistando a liderança, o homem cada vez mais perde a importância nesse contrato. Prover o sustento, cuidar do planejamento estratégico, promover a segurança da família é apenas uma obrigação do homem. Era assim antigamente, hoje muita coisa já mudou, mas a “síndrome do recomeço” ainda se manifesta.
A mulher, com sua natureza acolhedora, transforma-se no centro afetivo da família. Ela incentiva, consola, ouve, ajuda, cuida, aconselha, abraça, dá tapinhas nas costas, exerce, enfim, uma liderança emocional incontestável. Isso gera um enorme poder. Também acarreta uma retribuição afetiva unânime, de todos os membros da família. Ela é a mais amada, a mais incensada, restando ao marido um papel decorativo. Aqui começa o problema.
Sentindo-se tratado apenas como um móvel da casa, o marido começa a repensar sua vida. A idade já começa a pesar. O vigor físico já não anda tão presente. Ninguém lhe dá mais importância. Os filhos só o procuram para pegar o carro, dinheiro, ou os dois juntos. A mulher só fala com ele para reclamar ou fazer recomendações que mais parecem ordens militares. O cara, que toda vida foi um marido, pai e cidadão exemplar, fica balançado no sua autoestima.
Quando surge, em sua vida, uma jovem mulher, disposta a tratá-lo com admiração e respeito, é a gota dágua que faltava. O cara perde a visão crítica, esquece toda uma vida construída durante anos e embarca numa aventura. Geralmente não dura muito. Aquele relacionamento está fadado ao fracasso. Os dois têm expectativas diferentes e conflitantes.
Mas só descobrem algum tempo depois. Arrependido, o homem tenta retomar sua vida. Mas no seu antigo lar não há mais espaço para ele. Não, ele não foi substituído. É que agora o seu perfil não é mais adequado. Enquanto sua ex-esposa se fortaleceu com o episódio, perante os demais membros da família, a situação dele se tornou inaceitável, para não dizer patética. Alguém com aquele nível de decisão não é, absolutamente, digno de confiança. E assim, de forma melancólica, aquela família passa a ter dois núcleos. Num deles, centrado na figura da mãe, se aglomera, de forma afetiva e solidária, todos os membros da família, exceto o pai. Este, muito embora não possa culpar ninguém, carregará para sempre, de forma solitária, sobre os ombros, todos os erros e desacertos daquele casamento, que todos julgavam perfeito.