Guerra dos Sexos I
Guerra dos Sexos.
Você, caro leitor, já deve ter dedicado algum período, de seu precioso tempo, para pensar nas grandes diferenças entre homem e mulher. Evidentemente, não estou a me referir a detalhes anatômicos, que, de tão óbvios, surpresa seria encontrar alguém que os desconhecesse. Falo de questões comportamentais, personalidades, percepção e interpretações dos acontecimentos cotidianos.
Para melhor entender a questão, primeiro visite a moradia de um espécime masculino solteiro, que more sozinho, e você terá uma visão do inferno, tal a desorganização e a bagunça existente. Incapazes de cuidarem de si mesmo e do meio ambiente, os homens se restringem a manter a sobrevivência básica. Vivem a base de miojo e ovos, a mais baixa escala na hierarquia das opções alimentares. Os móveis, cada um diferente do outro, estão disposto de forma desordenada. A limpeza então, um verdadeiro atentado aos bons costumes.
Agora conheça o “toque feminino”. Visite uma moradia semelhante, mas habitada por uma mulher. Observe a sutileza na decoração. Sinta um leve perfume de incenso no ar. Analise a organização, a padronização, o método como rotina, onde tudo tem explicação. Cada detalhe te chama a atenção, pela criatividade, pela delicada combinação entre si. Outra mulher certamente mudaria alguma coisa. Um homem, mesmo achando a decoração meio extravagante, não teria reparos a fazer. Pensaria até que, a moradora, não teria tempo de cuidar da alimentação, envolvida com tantos detalhes. Ledo engano, se ele abrisse a geladeira, ficaria impressionado com a quantidade de opções alimentares, todas saudáveis, à base de frutas, verduras e demais opções naturais vegetarianas.
Vivendo universos tão distintos, não seria surpresas se homens e mulheres pertencessem a classes biológicas diferentes. Mas o DNA é o mesmo, logo pertencem à mesma espécie. Assim, apesar das diferenças apontadas, homens e mulheres devem encontrar pontos de entendimentos, de modo a viabilizar a sobrevivência da raça humana. Mas, para tanto, a humanidade teve que encontrar uma ferramenta que confinasse esses dois seres distintos numa jaula, digo, vida em comum. Já ouviu falar em casamento? Não é obra do acaso. Foi uma imposição legal, cultural e, sobretudo, um instrumento para que se garanta, minimamente, que os dois condenados, digo, afortunados, permaneçam “felizes para sempre”.
Tudo começa na adolescência. O namoro é o relacionamento entre duas pessoas, geralmente de gêneros diferentes, onde predomina a atração, a expectativa, o sentimento de posse... entre outros. É fonte de grande prazer pessoal, de crescimento emocional e origem de grandes desilusões, também! Como tudo na vida, sucesso e fracasso são partes integrantes do processo. É bom que se diga que o fracasso não representa, necessariamente, algo ruim. Exemplo: descobrir, depois de algum tempo, que o namorado é um cara medíocre e dispensá-lo por propaganda enganosa, na verdade é algo bom! Você se livrou de alguém que nada te acrescentaria! Mas o ideal do namoro, do ponto de vista da mulher, é encontrar alguém especial, popularmente chamado de “principe encantado”. Contudo, dizem alguns, toda mulher que espera um príncipe encantado, invariavelmente acabará encontrando um sapo! Mas isso só pode ser invenção de pessoas pessimistas!
Neste período, as meninas se ligam, regra geral, nos caras com melhor potencial para o padrão “bonito, carinhoso, inteligente, forte e sensível!”. Se for rico ainda melhor, mas elas não admitem esse item como sendo essencial, embora não se conheçam muitos pobres que tenham se dado bem com elas. Os garotos são menos seletivos, em decorrência da brutal carga de hormônio a que são submetidos, vivem “catando” o que estiver disponível! Claro, mais cedo ou mais tarde eles também passarão a levar em consideração o seguinte padrão: “bonita, carinhosa, sem frescuras”. Por “frescuras” entenda-se as meninas que não ficam pegando no pé, que não exijam tanta atenção e sejam “mortas” de paixão por êles!
Nessa análise superficial, é possível ver, uma impossibilidade potencial de que as expectativas mútuas sejam atendidas. Aí é que entra a questão cultural. Não faltarão conselhos e insinuações de que o relacionamento é assim mesmo. Se não estão se entendendo é por que não estão fazendo a coisa certa. O tempo resolverá tudo, na falta de argumento mais efetivo. O processo segue, apesar dos pesares, desaguando num evento único, chamado de “festa de casamento”. Não há limites para nada. Gasta-se o que não se tem, as famílias envolvidas entram em choque por escolhas banais, conflitos surgem a todo momento. A Lei de Murphy foi criada observando-se um casamento. Tudo pode dar errado. Eventualmente até um dos noivos se ausentará da cerimônia. Ou o dono do buffet foge com a grana. Mas estamos tratando aqui dos casos que superaram esta loucura, digo, evento em que o casamento é sacramentado. Então vamos em frente.
Saindo os pombinhos da igreja, agora já casados, ocorre um fato corriqueiro, mas de crucial importância para o futuro daquele casal. Como vocês sabem, toda igreja tem aquela parede em contraponto à entrada principal. Funciona como uma espécie de barreira para as pessoas, ao invés de ficarem olhando de fora, tenham que entrar na igreja para acompanhar os eventos religiosos. O casal avança, vindo do altar, e se aproximam daquela barreira, devendo escolher qual opção, esquerda ou direita, para saírem da igreja. O agora marido não tem a mínima ideia do simbolismo daquela decisão. Qualquer que seja, aquela escolha definirá o padrão do relacionamento futuro. Como sempre, a mulher toma a iniciativa.
- Benzinho, nós vamos pela esquerda, tá? – O marido, ainda atordoado pelo gigantismo daquele evento, pensando na grana que está devendo, apenas concorda. Acaba de assinar sua sentença de submissão. Ele não sabe, mas aquela era a última oportunidade para ter alguma voz ativa. Por desconhecer os rituais mínimos da convivência homem-mulher, omitiu-se, por considerar aquilo irrelevante. Terá a vida inteira, para se lembrar, que cometeu um erro imperdoável. Aquilo não era uma pergunta ocasional. Era a etapa final de consolidação de um longo processo onde, sua opinião, doravante, mesmo que ouvida, será descartada.
Ele deveria, naquele momento, ter reagido.
- Não querida, nós vamos pela direita. – Na verdade, não importa se direita ou esquerda. O essencial aqui, é que não podemos abrir mão, naquele primeiro momento, de demonstrar quem é que manda. Agora amigos, não podemos mais reclamar.