Comendo Telha

Comendo Telha,

- Benzinho, acho que comeria um pedaço de telha agora! – Wálter não acreditava no que estava ouvindo. Eram 11.30Hs da noite, já estavam deitados. Ele sempre tinha ouvido falar que mulheres grávidas, eventualmente, são acometidas por estranhos desejos. Geralmente ligados a alimento. Mas aquilo era demais. Nunca, ele jamais deixaria que Teresa, sua jovem esposa, grávida do primeiro filho, se alimentasse daquela maluquice de telha.

- Faço o que você quiser, vou buscar qualquer coisa, mesmo do outro lado do mundo, mas telha você não vai comer! – Continuou – Vou ligar pra sua mãe, quem sabe ela faz uma sopa, eu busco e você come. – Não teve resposta. Ele olhou para a esposa e, surpreso, viu que ela já estava dormindo.

Wálter, acordado, ficou pensando. Então é verdade mesmo? Mulheres grávidas tem esse estranhos desejos! Mas uma dúvida o tomou de assalto. E se Tereza estivesse apenas sonhando e, aquela frase, fosse apenas um reflexo de pessoas que falam enquanto dormem? Amanhã resolveria isto. Tereza teria que explicar aquela história. Não viu quando adormeceu.

No café da manhã perguntou.

- Ontem a noite você queria comer telha, era isso mesmo?

- Claro, amor. Telha parece uma coisa deliciosa. Veja a cor, a textura. Tudo que é bom tem a mesma cor de telha. Você nunca sentiu vontade? – Agora ele estava mais confuso. A vida não o preparara para aquele momento. O que estava acontecendo? Era demais!

- Tereza, você ouviu o que acabou de falar? Telha é feita de terra, barro. Isso não se come!

- Eu sei amor, mas não sei se vou comer, apenas falei que tenho vontade – Aquilo estava muito estranho. Wálter pensou nas três telhas que tinha no quintal. Sobra de uma pequena reforma na área de serviços. Pensou em descartá-las naquele mesmo dia. Mas Tereza se adiantou, foi no quintal e voltou segurando um pequeno caco de telha. Waltér ficou paralisado. Antes que o marido pudesse esboçar qualquer reação, Tereza acrescentou uma cobertura de margarina sobre a telha, deslizando suavemente a faca, como se estivesse preparando um sanduiche. Walter interviu.

- Querida, o que é isso? Eu sei que gravidez é difícil, mas vamos ao médico, deve ter uma explicação pra isso. Quem sabe você está precisando de minerais, cálcio. É isso, você está com carência de cálcio! – Enquanto Wálter falava, Tereza terminou de untar o caco de telha com a margarina e, ia levando o petisco à boca, quando Wálter gritou.

- Nãããããããõ! Nããããão faça isso!!!! – Wálter sentiu uma forte sacudida. Alguém o estava segurando e balançado, pelos ombros. Abriu os olhos e viu Tereza.

- Acorda amor!! Outro pesadelo? – Tereza, como sua voz terna e afetiva, o trouxe de volta. Ainda confuso ouviu sua esposa

- Levanta, já está atrasado para o trabalho! – Ele levantou-se esbaforido. Tomou banho, vestiu-se, comeu alguma coisa e se mandou para o serviço. Antes, porém, pegou uma sacola plástica, colocou as três telhas, que estavam no quintal, e correu para o carro. Tereza não entendeu a razão, mas preferiu não perguntar para não atrasá-lo ainda mais

Pequiboy
Enviado por Pequiboy em 11/04/2015
Código do texto: T5202898
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