Cio em silêncio
Há uma estória de Malba Tahan sobre o assunto. Não sei se original ou
repassada. A ela eu me refiro - e se muito barulho fizer - me retiro.
Tudo gira em torno de um clube que se formou entre filósofos, pensadores e gente comum, cujo objetivo era o de buscarem a perfeição por meio do silêncio.
Reuniam-se, e ninguém podia, ou devia, abrir o bico. Quem transgredisse, era banido do clube. E com o passar do tempo, e a produção de tanto ruído inócuo, tanta barulheira por nada, ia crescendo o interesse e a participação naquela tão estranha confraria.
Um certo dia, um homem muito rico, mas infeliz com a vida, resolveu
submeter-se à experiência. E pra lá se foi. Mal chegou, querendo observar todas as regras pra não fazer feio, começou a sentir olhos e mais olhos postos em si. Reprovadores, por sinal. Ele que já tinha se despido - como os demais membros - de suas roupas até, não conseguia entender a razão daquela nervosa animosidade, quase agressiva contra sua pessoa.
Até que um deles se pôs a chorar - em silêncio, suponho - e aí, gesticulando, fez com que o "intruso" entendesse a razão de sua inconveniência: estava portando seu relógio de bolso. E naquela atmosfera de quase perfeição, as batidas, fraquinhas que fossem do
relógio, incomodavam.
Ele ou o relógio? Num segundo tomou a decisão: foi fazer hora noutra
freguesia, até, pra evitar que a coisa voltasse a ficar preta, comprar uma ampulheta.