PERDAS

PERDAS

O ser humano já nasce tendo perdas, quando deixa o conforto da barriga da mãe e sai para a loucura deste mundo. Acho que é por isso que os recém-nascidos não choram quando nascem, têm que levar um tapa no bumbum para acordar para a vida, acordar para a realidade; não adianta mais ficar sonhando com a barriga quentinha e segura. Tem que começar a caminhada, já que nasceu.

Ouvi uma vez um psicólogo falando que, para não ficarmos à beira da insanidade, devemos sempre “elaborar o luto”, diante das perdas. Perdas estas que estamos constantemente experimentando ao longo da vida. Por exemplo:

A perda da namorada – Caso você esteja de bem com esta perda, é sinal de que, no final das contas, não foi uma perda e sim, um ganho e logo você estará desfilando com uma mais bonita e gostosa; caso contrário, prepare-se, se não elaborar o tal do luto, quem vai ter que elaborá-lo, são seus parentes e amigos em volta do seu caixão, e este sim será o tal luto verdadeiro.

A perda do emprego – Nossa! Acho que este é o que dá mais trabalho em aceitar e elaborar o maldito “luto” – Bom, pelo menos, para os que trabalham mesmo – E pelo menos, durante seis meses, não será tão trágico, para os que conseguiram o “seguro desemprego”. E quando acaba, e não se arrumou trabalho? Que desespero! É nesse momento que aparecem as mais criativas e originais ideias de conseguir dinheiro. Alguns até descobrem aptidões jamais conhecidas e se dão bem melhor do que estavam. Aí entra a história da “vaquinha”, onde é preciso perder o cômodo modo de vida, para se aventurar em novos caminhos. Para os que não conseguirem arrumar outro, nem elaborar esta merda de luto, sinto muito, mas também, vai acabar sendo enlutado de verdade pelos outros.

Eu já ia descrever outras perdas, quando me ocorreu que muitas delas são, exatamente, “subprodutos” da grande perda do emprego, ou perda da fonte de renda, que jorrava abundantemente, ou não tanto assim, até parar de chover e secar o reservatório da Cantareira (Nossa! Isso está tão epidêmico que distraidamente meus dedos, sem permissão do cérebro, escreveram isso. Misturei “fonte, jorrar abundantemente, inesgotável, blá,blá” com dinheiro, gente, trabalho, água, racionamento, ou não?...) Nada a ver, nada com nada. Voltemos ao assunto principal que era “ perdas “. Ah! Mas espera aí. Meus dedos não estão tão errados assim, pois no fim das contas, isso também é uma perda. Não vou enumerá-las, já que são muitas, e todos já sentiram isso na pele – os que gostam e os que não gostam de tomar banho.

Bom, sobre os subprodutos da maior perda do mundo capitalista: o poder de compra; perdeu isso neguinho, já era, tá fora! A renda que entrava e que movimentava a conta do banco, que movimentava seu cartão, com o qual, era movimentada sua namorada; que movimentava seu carro, o qual, movimentava sua namorada; que movimentava sua vida social, na qual, movimentava-se sua namorada. Chega! Não tem mais renda, não tem mais namorada, não tem dinheiro no banco, (aliás, os números que aparecem no extrato, bem que poderiam ser positivos, né?). Não sei se coloco “não tem mais amigos”, porque isso é complicado; se os amigos sumiram quando você ficou esfarrapado, então, não eram amigos, né? Deixa pra lá.

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A lista das perdas é interminável: perdeu o bonde (como se fosse seu), perdeu o pen drive, perdeu as chaves, perdeu a hora (como se alguém a tivesse), perdeu a vergonha (já não tinha, só cansou de disfarçar), perdeu a namorada (como se fosse dono de alguém), perdeu a cabeça (ops! Figurativamente, quando se perde a cabeça, fica-se insano ou descontrolado – controle ilusório), perdeu tudo (Nossa! Essa é de doer, sintetiza todas as perdas, depende de como cada qual se sente em relação ao que tem).

Perdeu o fio da meada, que é o que está acontecendo agora comigo. Não sei mais para onde ir nessa baboseira toda. Acho que vou postar isso e pedir para todos que aguentarem ler até o fim, que sugiram alterações e coloquem coisas criativas sobre perder, pois esse, é um tema vasto. Eu simplesmente fiz um rabisco, um esboço sobre o assunto.

O que queria dizer mesmo, era sobre elaborar o luto das perdas inevitáveis da nossa vida. Isso é tão complicado e vasto que não consegui escrever o que realmente passou pela minha cabeça. Me deu preguiça de colocar tudo no papel, e isso eu tenho que elaborar, para não perder a cabeça.

Fabio Della Rosa
Enviado por Fabio Della Rosa em 12/03/2015
Código do texto: T5167320
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