"SOLDADOS DA BORRACHA" VENCEM MAIS UMA GUERRA
Setenta e cinco anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial e 12 anos de burocrática espera política, os “soldados da borracha”, que lutaram com faca apelo esforço da guerra, único instrumento que possuíam para “sangrar” árvores de seringueira e extrair dela o látex que era utilizado na produção de pneus para aviões que se deslocavam e despejavam bombas nos inimigos, muitos não conseguirem assistir a aprovação da Emenda à Constituição n. 346, que concedeu direito de indenização de R$ 25 mil reais a cada um deles ou aos seus famílias e mais 1,5 como aposentadoria, reajustada pelos mesmos irrisórios e ridículos índices dos aposentados pela Previdência Social.
A segunda guerra mundial durou de 1o de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945, com a vitória dos aliados. Com o fim da Guerra, o mundo se dividiu em duas superpotências lideradas pelos Estados Unidos (capitalista) e a União Soviética (comunista), dando início à chamada “guerra fria”, que foi desenvolvida mais por ações psicológicas do pelo uso de armas. A Segunda Guerra demorou menos tempo do que os “soldados da borracha” esperaram para ver suas dignidades reconhecidas com a promulgação do Congresso Nacional, da PEC de autoria do deputado federal Arlindo Chináglia (PT/SP), que começou a tramitar em 2002 e foi transformada em Emenda Constitucional 78/2014.
Como surgiram os chamados “soldados da borracha?”
A história oral e alguns livros publicados, como do ex-governador do antigo Território Federal de Rondônia, Paulo Nunes Leal, registram que durante o Governo Getúlio Vargas, navios da Marinha paravam no mar de Estados do Nordeste, principalmente do Ceará, e marinheiros armados, convocavam homens para o “esforço de guerra”, em nome do Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta): ou combateriam pela FEB – Força Expedicionária Brasileira na Itália ou trabalhariam nos seringais, usando como arma de combate uma faca de corte e extraindo látex para produzir pneus de aviões porque os japoneses haviam invadido à Malásia, onde foram plantadas mudas de seringueiras levadas da Amazônia, por Henry Vickman! Foi o primeiro caso histórico registrado de pirataria. Mas outros continuam acontecendo!
Na obra do ex-governador, “A Guerra que eu Vivi”, relatando o cotidiano dos “pracinhas” nos navios, citado na pesquisa de Aleks Palitot, afirma que “o que mais estranhamos, no início, foram as privadas com seus vasos sanitários sem divisões, o que provocava constrangimento, especialmente aos oficiais superiores e aos capelães militares. A alimentação de bordo era farta e nutritiva, mas que não agradava ao nosso paladar, especialmente pelo tempero, quase sempre adocicado. Um soldado da minha Seção, Miguel Paiva Jacques, que tinha um defeito físico, puxando um pouco de uma perna ao caminhar, não deveria ter sido convocado, especialmente para integrar uma unidade de combate. Tratava-se de uma pessoa de ótimo gênio e do tipo que chamamos de “virador”, comunicativo e sagaz, mas sem condições físicas para ser combatente. Não sei como ele se insinuou junto ao pessoal do navio, sem saber uma palavra de inglês, passando a ser ajudante de cozinheiro. Nessa situação tinha acesso ao depósito de alimentos e, de vez em quando, aparecia em nosso camarote com um punhado de maçãs, que acabavam por melhorar nossas refeições”.
Foram transportados em navios da marinha em torno de 60 mil “soldados da borracha” retiradas de suas casas por ordem de Getúlio Vargas e levados para Estados da Região Norte, para extrair látex durante a Segunda Guerra Mundial. A borracha era enviada aos Estados Unidos e usada na indústria bélica dos aliados para a guerra contra as forças do Eixo, que reuniam países com ideologias autoritárias, como a Alemanha nazista de Adolf Hitle e a Itália de Benito Mussolini. Dos 60 mil que foram convocados no passado, hoje existem pouco mais de 12.500 vivos. Os outros já faleceram, mas existem seus herdeiros.
Aleks Palitot, publicou na internet uma interessante pesquisa sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, remontando a história e interrogando o passado para ampliar os horizontes e construir “uma nova história”, garantindo que seu trabalho é mais para contextualizar “episódios que transformaram em História a presença da FEB na Segunda Guerra Mundial”. Os soldados que foram para o fronte da guerra eram chamados de “pracinhas” e os que ficaram na retaguarda produzindo látex para garantir a continuidade da batalha, foram chamados de “soldados da borracha”, mas também podemos chamá-los de heróis que lutaram a venceram a burocracia política e saíram vitoriosos mais uma vez.
Hoje, permanecem vivos 5.879 “soldados da borracha”, incluindo 6.303 pensionistas, perfazendo um total de 12.272 beneficiários que conseguiram vencer mais essa guerra pela dignidade, montando sindicados, federações e lutando para ver reconhecidos seus direitos e dignidade 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e 12 anos de burocracia política!