CHÁ DE CADEIRA
CHÁ DE CADEIRA
“Ansiedade é uma pressa por uma coisa que só atrasa” (Helder Herik)
Catacrese é uma figura de linguagem que não descreve exatamente o que se quer expressar É um tipo de metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro "emprestado". Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original. ( SAVIOLE, Francisco Platão. Gramática em 44 lições. 15 ed. São Paulo, Ática, 404-5.)
São usadas no dia – a – dia como gírias e para facilitar a comunicação. Catacrese – aplicação de um termo figurado por falta de termo próprio ((Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa edição 1971).
Na literatura, a catacrese também pode ser usada para enriquecer o texto:
"Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; [...]." (Graciliano Ramos, Vidas Secas.)
São expressões populares atribuídas a qualidades dos seres vivos em comparação com seres inanimados Como exemplos temos: “pé da mesa’, “dente de alho”, “cabeça de prego”, “asa da xícara”, ”boca do rio” “braço da poltrona”, “batata da perna”, “céu da boca”, “ chá de cadeira”, etc.
O “chá de cadeira” é uma expressão muito antiga. Os nobres e fidalgos consideravam-se superiores a seus súditos e, quando um destes queriam uma audiência eram acomodados em cadeiras e esperavam muito tempo para serem atendidos. Os servos dos súditos serviam chá às pessoas que “mofavam” nas salas de espera, surgindo assim a expressão.
Expressão esta que era comum nos comentários dos antigos bailes quando uma dama ficava, praticamente, a noite todo sem ser convidada por um cavalheiro para dançar. As “fofocas” do dia seguinte tinham sempre os comentários maldosos sobre aquelas damas :tipo “tomaram o chá de cadeira”.
“Coitadas não saíram da cadeira a noite toda”, “ficaram “encalhadas o baile todo”.
Nos dias atuais a expressão “chá de cadeira” é muito usada sempre que uma pessoa espera por muito tempo para ser atendida em uma clínica médica, em uma repartição pública, no aguardo de uma entrevista em busca de um emprego, em uma agência bancária, à espera de um artista iniciar o seu show, à espera de um transporte coletivo, etc.
Em uma clínica, seja paciente pelo SUS, por convênios ou por consulta particular, agenda-se a consulta estabelece o horário, mas tem que estar preparado para tomar um “chá de dadeira”, com algumas diferenças que vão das salas mais simples com ambientes desconfortáveis, quentes, até os ambientes mais sofisticados, com cadeiras confortáveis, ar condicionado, máquinas de água, cafés de vários tipos e ainda está sujeito a depois de muito esperar receber a noticia pelo recepcionista:” infelizmente Dr Fulano não poderá atender hoje.
E isto se repete numa repartição pública, com uma entrevista agendada.
Em uma agência bancária, seja ela qual for, apesar de existir uma lei determinando o limite de quinze minutos de espera, até cadeiras confortáveis são instaladas como forma de “tapear” o cidadão, fazendo- o tomar o “chá de cadeira” sem muito reclamar.
Até a espera pelo transporte coletivo que, ás vezes levam-se horas aguardando a sua chegada, já criaram nos pontos de parada dos ônibus uma tapeação com uma cobertura e banco para umas três pessoas, no máximo, tomarem o seu “chá de cadeira”.
E assim esta expressão popular e tantas outras continuam na boca do povo!
Em 18 de fevereiro de 2015
GSpínola