A minha dura, nada mole, vida de professor.
Hoje, 23 de fevereiro, na passagem de meu natalício veio-me a ideia de escrever umas linhas sobre este dia tão especial, principalmente, quando o personagem trata-se de um professor.
O dia começou bem, como qualquer outro. Acordei por volta das dez horas da manhã e pode surgir por parte de algum leitor curioso a curiosidade de saber o porquê de se acordar tão tarde em uma plena segunda-feira. A questão é que as aulas do Estado só iniciarão, Deus sabe-se lá quando, e por esse motivo se deu tal privilégio. Mas vamos às vias de fato. O que se tem de certo é que mais um ano se passou na vida do professor de português da comunidade Tucuns dos Donatos, na qual exerce suas funções de funcionário público da Prefeitura Municipal de sua estimada cidade de Pedro II. A comunidade fica a mais ou menos uns cinquenta quilômetros da cede do município e todo santo dia, está lá, o professor no cumprimento do seu dever. Atividade da qual se orgulha muito. Mas hoje, justamente hoje, aconteceram algumas mudanças que originaram estas poucas linhas no cotidiano do professor. Costumeiro, a partir das dezessete e trinta, pegar o transporte que leva os professores até a Escola. No local de sempre. No horário combinado. O meio de transporte é outro. Antes éramos transportados em uma D-20 cabine dupla de cor vermelha, ou seria de cor vinho, na verdade a cor do veículo causa uma confusão danada. O motorista, esse sim, é muito responsável. Hoje, no entanto, seríamos transportados de ônibus, juntamente com os alunos das comunidades São Luis de baixo e São Luis de Cima. Todo o nosso itinerário seria modificado. Sem sabermos o que havia acontecido de tão brusca mudança, só nos restou seguir viagem para o cumprimento de mais um dia de trabalho. Chovia bastante, apesar de termos enfrentado um longo período de estiagem. Mas hoje choveu geral, de uma ponta a outra, de cabo a rabo, da Lapa ao Marinheiro. E como o motorista do ônibus, com toda sua experiência, tinha previsto. O ônibus não consegue atravessar o mar de lama das estradas da comunidade São Luis de Baixo, pois já faz uns quatro dias que cai uma chuva intensa na região. Eu jamais imaginaria que o sertão virasse mar tão rápido naquela região. O certo é que o ônibus escolar, que iria transportar os professores e alunos até a Escola dos Tucuns dos Donatos, atolou as quatro rodas no lamaçal da pequena estradinha. Não restou alternativa, se não abandonar o veiculo e se aventurar nas trilhas enlameadas até a pista asfáltica, percorrendo uns três quilômetros de caminhada. Ao chegar às margens da BR 404 avista-se uma casinha na qual os profissionais da educação pedem abrigo, que de pronto são atendidos e recepcionados com todo carinho pelos moradores:
__ Professor, meu querido o que você faz nesta chuva, home! Vamos entrar pra dentro. Ande, tome aqui essas pragatas. Tire esses seus sapatos se não você vai pegar umas friera, sô. Vou já fazer um cafezinho pra vocês se esquentar. O que foi que aconteceu meu povo de Deus?
Assim dona Altina nos recepciona em sua casa, juntamente com seu esposo, seu filho e nora. Ela ex-aluna, um dos seus filhos também sem falar da nora, todos, ex-alunos. O sertanejo é o povo mais amigável e hospitaleiro que existe.
Ao menos no dia de hoje pude observar como é transportado o pessoal do alto escalão da Prefeitura, pois fomos transportados de volta em uma L-200 Triton, cabine dupla, com ar-condicionado, air bag duplo, 4X4, freios ABS, nitidamente de cor branca. Uma maravilha!
Pedro Barros.