Eu te aceito, você me aceita?
Parece muito simples e muito fácil o: “sim, eu aceito”. Naquele momento não há nada, nem ninguém , apenas os dois vivendo um momento mágico. Mas a vida e a realidade sempre chegam pra cobrar o que lhes é de direito.
Alguém se aproxima, cruza o jardim, percorre os ladrilhos, chega à porta e bate. Ainda envoltos pela euforia, a porta é aberta. Sem cerimônia ela entra, se instala e ali permanece. Você poderia me perguntar de quem falo, e eu lhe respondo: a convivência a dois.
Torna-se presença constante, na preocupação em preparar o café do jeito que ele gosta, no calor que os corpos emanam, no estender da mão e encontrar o outro ao seu lado, na mudança brusca no tom de voz, e logo em seguida um: “me desculpe, podemos conversar” e quando olhos nos olhos são imprescindíveis quando fazem amor.
A convivência está ali, impregnada em cada uma dessas ações, lembrando, cobrando e alertando: “cuidado com a rotina, ela é perigosa, má conselheira e traiçoeira”. Mas a arrogância e a certeza de que tudo está sob controle, pode cegar, torná-los descuidados e despreocupados... E a porta fica entreaberta, uma pequena brecha e se esgueirando a rotina penetra, se instala com tal força que joga pra escanteio e sufoca num canto escuro a convivência.
E de repente, se o café ficou bom ou não, não importam mais, as vozes alteradas se tornam mais constantes, e os pedidos de desculpa se tornam raros, uma refeição a dois torna-se sufocante e a relação transforma-se num fardo pesado de se carregar.
Mas a convivência, não se deu por vencida e pode agir de forma estranha e imprecisa. Um desmaio repentino, uma voz ao longe que diz: “você está bem, fica comigo”. Parece arrancar-lhes do torpor que a rotina os envolveu. E a convivência desperta pronta para a luta.
No espelho do banheiro, um pequeno bilhete dizendo: senti saudades de nós. O banho a dois tornou-se diário, as mãos entrelaçadas por debaixo da mesa, durante um jantar com os amigos e uma xícara de café compartilhada na cama.
Parecia muito simples e fácil o: “sim, eu aceito”.