Bem na frente do meu AP mora uma família descontraída, animada, carismática, uma turma que agita todas.
 
Eles não só fazem a alegria do prédio.
Embalam e movimentam bastante o condomínio. Sempre comandam uma comemoração, um churrasco, uma feijoada ou algo do gênero.
As filhas do casal, seus amigos, as netas, os conhecidos e visitantes costumam participar das divertidas farras.
Eu, o poeta bigodudo, nunca estive nesses eventos.
 
Imagino que meu jeito discreto, minha timidez ou a quase nenhuma sintonia com festas jamais motivou o casal a realizar o convite.
_ Vizinho, quer um pratinho?
_ Hoje vai ter uma festinha aqui. Apareça!
 
Nunca ouvi o convite sonhado nem percebo que ele está perto de surgir.
Converso com o homem da casa, o maridão (cidadão porreta!), certa vez combinamos que seria importante colocar um portão no nosso andar (hoje o portão já existe), conservamos uma relação muito agradável e diplomática, porém o convite continua sem ocorrer.
Com suas filhas e a esposa apenas prevalece um contato respeitoso.
 
Moro aqui há dez anos, já deu para notar que não sou um psicopata. Por que eu não poderia receber o convite?
 
* Indo ao trabalho, várias vezes o tempero do almoço espalha um cheiro tentador. A esposa, quem prepara a comida, um dia talvez indague:
_ Quer almoçar conosco, vizinho?
 
Não seria nenhum absurdo ouvir a pergunta.
Aliás, nesse momento, quando o tempero tanto enlouquece o olfato, eu estou indo exatamente almoçar num restaurante do bairro.
Se eu recebesse o convite, eliminaria a caminhada solitária, haveria o estreitamento dos laços, a economia ajudaria o bolso e finalmente eu descobriria se saciar a gula foi tão intenso quanto o ato de desejar.
 
Será a comida apetitosa e gostosa ou o cheiro é pura ilusão?
 
Segue a dúvida enquanto o poeta bigodudo vai ao habitual restaurante.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 22/02/2015
Reeditado em 22/02/2015
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