QUER CAFÉ?
Trabalhei, há muitos anos, com um jovem senhor que entre muitas coisas, me ensinou que quando vamos à casa de uma pessoa e ela nos oferece um cafezinho, devemos aceitar. Café é a linguagem do povo, rico ou pobre. É uma bebida dinâmica e, por mais simples que seja o lar, não falta o café. O hábito de tomar um café reinventa inúmeras situações, dá um novo ânimo à conversa, coloca as pessoas no mesmo nível. O café faz isso, nivela as diversas classes. O café realmente humaniza a conversa.
Falar sobre café pode provocar sinestesia. Observe, por exemplo, este relato: “Um homem elegante, de roupa social, adentra no bar devagar. A passos lentos se aproxima do balcão de madeira rústica e pede um café. Em poucos minutos o garçom traz uma xícara exalando fumaça, confirmando que o café foi feito naquele instante. O aroma forte percorre todo o ambiente e o homem elegante, fechando os olhos para sentir o cheiro primitivo daquela bebida, toma um gole generoso proporcionando inveja aos outros clientes...”. Passamos, por um instante, a imaginar a cena, ver a fumaça saindo do café formando desenhos abstratos no ar, sentindo o aroma perfumando nossas narinas, e vamos quase chagando ao êxtase, como o homem do bar, com água na boca. É o poder do café!
Sempre fui apaixonada por café, mas um fato estranho me aconteceu outro dia. Por gostar muito de café, pode-se imaginar que sou expert em tipos e variadas origens de cafés. Engano. Gosto mesmo é do café mineiro. Sem frescura. Mas tive a ideia de uma nova experiência e lá fui eu. Café expresso, apesar de muito urbanizado para mim, sempre gostei de tomar no terminal rodoviário. Mas nesse dia fui a um “Café” e pedi o Espresso, como se diz na Itália. Esperei no balcão como se estivesse na rodoviária e demorou tanto que resolvi me sentar. Comecei a escutar barulhos estranhos, olhei ao redor, apenas eu. Não conseguia imaginar um barulho daquele apenas pelo meu cafezinho. Na sequência veio o silêncio e, para mim, o pior: a “barista” trazendo um mini pires, com um mini café, um mini copo com água gaseificada e um super mini biscoitinho doce. Preferi não entender e degustei na ordem em que meus olhos começaram a enxergar. Foi uma experiência que consolidou ainda mais meu gosto pelo café servido no bule, e esfriado ao suave sopro servido nas antigas xícaras da roça.
O importante é que a preferência pelo bom cafezinho possa ultrapassar gerações. Não apenas pelo gosto, ou cheiro, ou por ter aprendido a tomá-lo desde criança. Mas pelo café proporcionar o hábito de reunir pessoas ao redor da mesa para longas “conversas jogadas fora”. Pelo fato do café ser motivo de pausa em meio a um dia exaustivo. Pelo fato de nos fazer lembrar um pouco da nossa história, mesmo sendo tão sofrida, mas nossa história brasileira. E pelo fato de ficarem guardadas na memória, tantas e tantas cenas vivenciadas, em que um café foi coado especialmente para efetivar valiosos momentos, não mais vividos.