SOBREVIVER OU VIVER

Uma vez eu vi um filme que se chamava “A guerra do Fogo. Mostrava o homem no tempo da Pré-história e seu esforço para sobreviver antes da descoberta do fogo em um ambiente ainda hostil, com animais ferozes e os movimentos da placas teutônicas e formação dos continentes.

Assim como na animação infantil, bem humorada chamada “Os Croods” que também trata do homem das cavernas e seu esforço para sobreviver. Eles viviam a maior parte do tempo dentro da caverna e saiam apenas para se alimentar, (apesar de não acreditar que o nosso começo tenha sido assim... enfim).

Não sei quantos mil anos se passaram e o homem hoje não é muito diferente.

Numa era de grandes descobertas e desenvolvimento tecnológico e científico, continuamos sobrevivendo.

Desde a invenção do relógio, ficamos escravos a tal ponto que não temos tempo para “viver”.

Eu também tenho ódio do relógio!

Hora para levantar, hora para comer, hora para buscar filho no colégio, hora para trabalhar... Isso para quem é empregado, porque quem trabalha por conta própria não tem hora (trabalha toda a hora, até quando está de folga).

E muitas vezes nos surpreendemos com o pôr do sol: Já!?

Se tivéssemos que esperar o pôr do sol, acho que morreríamos de impaciência. Me pego, muitas vezes impaciente esperando o leite aquecer no micro um minuto!

Não temos tempo pra olhar para o céu, para uma nuvem, para escutar, simplesmente escutar sem pensar em nada.

Ás vezes levantamos, olhamos rapidamente pela janela e vemos o céu azul que até parece que foi pintado e pensamos: “Que dia lindo!” E só! Baixamos a cabeça e começamos a correria.

Lendo os poemas de Mario Quintana observo sobre o que ele escreve. Ás vezes é sobre uma ruazinha linda que é descrita minuciosamente, ou sobre a fumaça do cigarro no ar, ou sobre os sapatos em uma janela...

Se ele estivesse nessa correria em que vivemos hoje, acho que esses poemas não existiriam.

Poesia não combina com correria.

Poesia combina com a vida, viver, apreciar e ter tempo.

Precisamos trabalhar cumprir quinhentos compromissos para pagar, pagar e comprar.

E comprar coisas que não são tão importantes e nem tão belas como um dia de céu azul.

Trocamos coisas maravilhosas, como jogar conversa fora, comer vagarosamente sentindo o gosto das coisas, tomarmos um café gostoso, apenas sentar um pouco e observar, por um celular mais moderno, uma TV nova etc., etc.

Em um livro autobiográfico Zélia Gatai disse que no tempo em que era criança não se tinha o hábito de abreviar os nomes e as palavras.

Tinha-se tempo para se dizer e escrever o nome todo, assim como olhar pela janela.

Hoje abreviamos tudo o que é possível para escrever mais rápido.

Daqui a milhares de anos, vão achar nossos escritos e não vão conseguir decifrar, como o Aramaico antigo que usava só as consoantes.

Acordei às 6h, perdi o sono e comecei a pensar. Incrível como se consegue pensar quando não estamos fazendo nada!

Levantei, fiz um café forte e comecei a escrever antes que eu não tivesse tempo para isso...

Iliane S Iglesias
Enviado por Iliane S Iglesias em 19/02/2015
Reeditado em 09/12/2017
Código do texto: T5142229
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