COMPRE EXPERIÊNCIAS, NÃO COISAS

Este foi o título da revista Época, número 867, publicada em 19 de janeiro de 2015. Título de capa de revista e que por si só já nos faz refletir uma noite inteira, ou melhor, parte da vida. É surpreendente pensar que, no mundo ocidental as pessoas nascem aprendendo a valorização de tudo o que é material, que vivem em função de sonhos capitalistas, que desfrutam dos prazeres das conquistas monetárias e que, em determinada fase da vida, tem a magnífica capacidade de mudança. Muitas pessoas percebem que correram a vida inteira e não alcançaram seus objetivos. E nunca irão alcançá-los, porque estão gastando energia demais correndo atrás de uma ilusão.

O que traz mais felicidade? Experiências ou coisas? Ser ou ter? A reportagem apresenta várias histórias de pessoas que não olvidaram em deixar de lado a vida convencional para realizarem experiências fascinantes. Experiências que as fizeram mudar a forma de pensar, a maneira de ser. Um microempresário que vendeu o apartamento para subir o Monte Everest; uma revisora que percorreu todas as cidades inspiradoras das obras de Guimarães Rosa; a jornalista que aguardou um ano na lista de espera para jantar em um famoso restaurante de Barcelona; o advogado que visitou locais sagrados em Israel. Experiências que trazem um significado muito pessoal. Mas a coragem despertada para que o sonho se realizasse é muito mais que um exemplo, é inspirador.

Lembrei-me também de uma matéria que assisti há muitos anos, não me recordo mais que programa a apresentou, mas se tornou importante para mim. Eram pessoas que, no auge da vida produtiva, no momento mais esperado da carreira, quando altos valores financeiros e emocionais já haviam sido investidos, resolveram abandonar tudo e mudar de profissão. Começar do zero. Não se importaram nem sequer com o que a própria família pensaria. A partir daquele momento, fazer o que gosta se tornou prioridade. Um dos casos mais impressionantes foi de uma executiva, com formação acadêmica no exterior, simplesmente pediu demissão e abriu, no sul do país, uma pequena fábrica de doces caseiros, onde ela era a principal doceira. Ela afirmava que fazer doces era um sonho de infância, que a cozinha era um lugar mágico e desejava fazer doces próprios e saborosos; mas que a influência da família, dos amigos e do próprio cotidiano a fez se dedicar à administração, levando a cozinha sempre como lazer. Os problemas estressantes e repetitivos enfrentados pela executiva fizeram com que ela se sentisse extremamente motivada a mudar. E fez!

Uma autorreflexão bastante pertinente é se realmente fazemos o que gostamos, se vivemos experiências relevantes e honestas. Muito mais fácil é seguir os caminhos pré-determinados pela sociedade, porém, ouvir o sentido que nos faz buscar caminhos mais felizes é engrandecedor. De fato nos tornaremos mais humanos quando dermos mais valor ao que nos proporciona crescimento pessoal. Ir atrás das experiências nas quais acreditamos estar nosso crescimento evolutivo é o que devemos fazer. Não é preciso sermos radicais, mas é de fundamental importância sermos realistas, de verdade. Investir no nosso desenvolvimento se tornará hábito e trocar coisas por experiências passará a ser decisão natural, nos fazendo mais felizes.

O desprendimento para fazer o que realmente gosta pode estar relacionado com a experiência de vida de cada ser. Viver nos traz mais segurança para tomar decisões. Viver nos faz ter uma visão mais ampla sobre a própria vida, e passamos a enxergar nossa existência muito pequena, se houvermos acumulado mais coisas que experiências. Coisas enchem os espaços dos nossos lares, experiências nos enchem de conhecimento. Coisas acumulam poeira ao longo dos dias, experiências nos fazem acumular grandes histórias. Coisas nos escondem de nós mesmos, experiências nos proporciona autodescoberta. Coisas nos afastam das pessoas as quais amamos, experiências criam laços. Coisas geram prazer momentâneo, experiências geram prazeres eternos. Coisas se tornam heranças familiares, experiências são heranças íntimas. Coisas são apenas lembranças mortas, experiências são lembranças vivas!

Barbara Freitas
Enviado por Barbara Freitas em 18/02/2015
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