UMA BOA AÇÃO
Num dia qualquer do mês de março de 2002, estava assistindo a um programa de televisão, quando, de repente, entra na telinha o Plantão Local mostrando uma mãe que, segundo aquele noticiário, espancara seu filho, uma criança de apenas 1 ano de idade. De imediato constatei que a pessoa denunciada era, nada mais nada menos , a minha funcionária. Detesto o nome empregada. Surpreso, acompanhei o relato do repórter que enfatizara que o ministério público já estava tomando conta do caso, acrescentando ainda que se ficasse provado que aquela mãe tivesse machucado propositadamente a criança, ela seria presa e lhe seria retirada a guarda da mesma.
Comentei o fato com minha esposa, Jaqueline e com meus filhos, Pedro(24) e Cinthia(23), argumentando-lhes de que não conseguia acreditar que a Maria,(nome fictício), fosse capaz de praticar tão infame covardia, como estavam dizendo, considerando que ela nunca apresentara sinais de quaisquer tipos de demência mental ou equivalente e demonstrara muito afeto pela criança quando a trazia consigo para nossa casa, enquanto prestava seus serviços. Mesmo assim, disse-lhes para terem cuidado com mesma, por que nós a conhecíamos de pouco tempo e nada sabíamos de seu passado, apesar dela nos ter apresentado boas referências, quando de sua contratação. Orientei-os que não comentassem nada com Maria, evitando-se constrangê-la ainda mais, uma vez que ela estava enfrentando uma barra pesadíssima e em conseqüência disso, mostrara-se visivelmente abatida, após ter aparecido na TV. Nos dias seguintes após a aparição na televisão, os jornais locais impressos não pouparam adjetivos à coitada, achincalhando-a de assassina, monstro e megera, dentre outros.
Muitos conhecidos e alguns parentes aconselharam-me a despedi-la, o que eu retrucava, dizendo-lhes que se ficasse provado sua culpa eu mesmo colaboraria entregando-a à justiça. Como seus pais residiam no interior e acreditando na inocência da mesma, imbuído de espírito cristão, arvorei-me na condição de seu pai, conduzindo-a, algumas vezes, ao Conselho Tutelar encarregado do caso, justamente para poder observar mais de perto se ela estaria falando a verdade quando negava as acusações. Apesar de continuar negando com veemência tal acusação, a situação para ela e para nós estava insuportável, pois descobriram que ela prestava serviço de doméstica em minha residência e o assédio da imprensa era imenso.
O certo é que no final do ano de 2003, nada tinha sido provado contra Maria e ela conseguira arrumar um companheiro para consigo morar e, por isso, se demitira do serviço. Como nada ficara provado sobre a denúncia de maus tratos em seu filho, ela continuou sua vida e se engravidou de seu novo parceiro, adquirindo mais dois filhos que, segundo ficamos sabendo, são criados com muito amor, carinho e muita dedicação. Daquela época para cá não tivemos mais notícias de Maria, mas agora, mês de maio de 2007, ao visitarmos uma pessoa conhecida, eis que nos surge lá a Maria, toda feliz da vida e como boa mãe, cercada de seus filhos já crescidos e bem tratados, o que nos deixou muito felizes por termos acreditado em sua inocência.