REFLEXÃO SOBRE A NOMEAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS DA IGREJA CATÓLICA.

A dignidade cardinalícia é certamente uma dignidade, mas não é honorífica. Assim no-lo indica o próprio nome – «cardeal» –, que evoca a «charneira», a junção cardinal, principal; não se trata, portanto, de algo acessório, decorativo que faça pensar a uma honorificência, mas de um eixo, um ponto de apoio e movimento essencial para a vida da comunidade. Vós sois «junções cardinais» e estais incardinados na Igreja de Roma. Lumen gentium, 13; cf. SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA, Carta aos Romanos, Prólogo).

A decadência moral ou, em outras palavras, segundo um conceito em moda, a decadência dos costumes é caracterizada muitas vezes pela riqueza e luxo. O Papa Francisco hoje em sua homilia, na nomeação de novos cardeais, chamou a atenção dos mesmos para o serviço. Afirmando que cardine é dobradiça. E dobradiça serve para abrir e fechar portas. E que a função do cardeal é abrir portas, ele não é estrela mas servidor. Se não é, deveria ser. Ouvindo sua homilia, me levou ao tempo em que "la robusta virtud era señora". Por vezes esta perspectiva atinge o anedótico. Rousseau no Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes (discurso sobre a desigualdade entre os seres humanos) (1755) cita, entre os males que trazem ao homem catastrófica passagem do estado natural ao estado civilizado. Que o poder, o status, o desejo de ser bajulado e coroado como o mais importante, acabou levando a humanidade para caminhos muito tortuosos.

O declínio religioso hoje é devido à decadência da Igreja nesse sentido. Ela cada vez mais se afastou do modelo primitivo, serviçal, como falava Papa Francisco. Ela foi entregando-se à avareza e ao orgulho, descurando a piedade, substituindo a virtude pela hipocrisia, ignorando a atitude serviçal, a caridade, a humildade e, acima de tudo, tolerando a tirania crescente do sistema que hoje tenta dominar o mundo.

O Papa Francisco nomeou cardeais de sedes onde não se falava em Cardeais. Deixando de lado as sedes robustas. Os novos 15 cardeais eleitores, com menos de 80 anos, são provenientes de 14 países, que se tornam 18 se se acrescentarem os cinco que, por causa da idade, não têm direito a entrar no conclave. Em caso de eleição de um novo papa, o colégio eleitoral terá menos membros da Cúria do Vaticano e será menos europeu.

A maior parte das novas nomeações pertence ao hemisfério Sul. Duas na África (Etiópia e Cabo Verde), três na Ásia (Vietnam, Myanmar e Tailândia), três na América Latina (México, Uruguai e Panamá) e duas na Oceânia (Nova Zelândia e Tonga). Três destes países terão um cardeal pela primeira vez na história: Cabo Verde, Myanmar e Tonga. O bispo destas ilhas, com 53 anos, será o mais jovem do colégio.

Para mim não resta dúvida, é um novo tempo na Igreja que começa. O histórico de cada cardeal nomeado é de inteira presteza, singeleza, fidelidade e serviço ao povo sofrido desses países.

Gratulatione ad papam Francisco.

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 14/02/2015
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