BUCÓLICOS
A velha vitrola do bar, tocava um agradável blues dos anos 80, revelando assim o bom gosto musical do ambiente.
No balcão, olhares apáticos vislumbravam seus drinks antes de bebe-los em um único gole. E como se houvessem ensaiado os movimentos, repetiam sequencialmente a cada cinco segundos.
No bilhar, as tacadas eram inconfundíveis, apesar das gargalhadas e conversas dos jogadores.
Nas mesas, garrafas de bebidas, cigarros, dinheiro, cartas e apostadores.
Todos pareciam distraídos, alguns poucos tentavam disfarçar o olhar e procuravam pelo salão uma companhia, talvez para dançar.
Entre tantas doses e tragadas, tacadas e jogatinas, os sorrisos eram dissipados no cachimbo do tempo, destilados no esquecimento.
Eu apenas observava calado, numa mesa recuada, acompanhado de uma caderneta, da caneta e da reflexão, tentando decifrar os olhares e o que pensavam daqueles momentos vividos todas as noites.
Vesti meu casaco surrado, meu café já havia acabado. Paguei a conta e sai triste por não saber quais daqueles ainda viveriam enquanto eu voltasse lá para escrever.