Cardápio Vitae
 
Nilce era o nome da outra professora de História. Comigo fazia par magistrando saber. Para mim era o primeiro ano de experiência, o que me fazia também aprendiz. Havia Irmã Margarida, Geografia, que sobressaia pela paciência e calma que a idade lhe outorgava. Suzeth, Inglês e Luiza, Português. Alexandre, Educação Física; César, Matemática e Cidinha administrava a secretaria.

Era fevereiro, não um fevereiro qualquer. Era fevereiro daquele ano – 1981 – que eu estreava no Magistério – sonho de menino.

Que sonho?! A mãe queria que fosse militar – achava imponente homem fardado e tocando na banda militar. E o pai o queria enfiar no colégio de padre – não que o pai fosse católico, mas seria um caminho para o menino. Mas a vida era do menino e de ninguém mais.

E aquele moço ali se iniciando no Magistério – achava mágica esta palavra. Sonho? Realmente romantismo. “Ser professor”, dizia alienadamente o jargão, “é exercer um sacerdócio”. Porque nem padre, pastor, ou qualquer líder religioso vive de idealismo. Eu queria a profissão mesmo com suas dificuldades e desafios. E digo desmistificando e desmitificando:  Magistério é profissão, pois vendemos nossa força de trabalho através do saber que magistramos!

Professor sim senhor e sim senhora! E assim comecei a trilhar o caminho aos trancos e barrancos. Eu ainda fazia o curso universitário e a didática e “manejo de turma” – ridícula esta expressão – adquiri no exercício da sala de aula.

Neste fevereiro de 2015, no primeiro ano que eu não tenho que ir para a escola, fazer “Plano de Curso”, planejar aulas e nem provas ou testes acordo nostálgico – recalque da profissão. Vou até a estante e pego aquele livro didático que guardei e que havia adotado naqueles primórdios. O livro era depositário de lembranças: cheiros, cenas e episódios do cotidiano escolar. No livro-relicário havia pessoas, havia gerações formadas, havia práticas de magistério. Encontrei anotações manuscritas e até obsoleto estêncil para mimeógrafo.

Valeu a pena? Ah, venha cá Fernando Pessoa e responda por mim:
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quiser passar o Bojador tem que passar além da dor.”

 Digo mais fazendo minha catarse:
Viver é colecionar memórias para depois, em fino menu, se servir em banquete: curriculum vitae
!
 

 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 02/02/2015.
 
Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 06/02/2015
Reeditado em 06/02/2015
Código do texto: T5127667
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.