MISÉRIA
Santa Sofhia, nome fantasia do fabricante de água adicionada de sais que acabo de beber na rodoviária de Antônio Bezerra, depois de degustar uma pamonha desgostosa que comprei na calçada do North Shopping. Para minha alegria posterior, o vendedor não quis vender 3 pamonhas por R$ 5,00 com perda, apenas, de R$ 1,00, pois a mesma tinha gosto de açúcar e palha, apenas.
Eu quase perdi a parada na rodoviária e ia esquecendo de puxar a corda do coletivo dando sinal de parada, pois uma senhora, que entrou no mesmo ônibus que eu, no Terminal de Antônio Bezerra me prendeu a atenção.
Na fila de espera não observei aquela senhora que, quase pulando, entrou no ônibus para disputar o primeiro assento, reservado para “ela”. Porém fiquei ao seu lado, pois tinha que descer logo.
Observei aquela anciã comendo uma laranja. Não sei como a cortou e não parecia rasgada. Talvez já estivesse partida.
Observando eu, vi naquele rosto sofrido os traços das dificuldades associados à velhice e face de pouco músculo e farto de pele e de rugas.
Parecia que aquela “menina” de 70 anos, aparentemente, estivesse mesmo com fome, pois devorava com muito gosto a laranja.
Em seguida ela pegou um depósito de plástico de dentro de uma sacola de pano e o abriu. Não pude deixar de ver alguns pedaços de frango assados e uns já amordaçados. Alguém os havia experimentado. Parecia resto de comida adquirida em algum local que serve alimentos.
Após examinar e conferir o conteúdo, ela abre outra sacola de dentro da maior e tira alguns itens: uma lata de óleo, observa e devolve. Uma massa de milho 500 gramas, observa e devolve dentre outros gêneros.
Observei na mesma sacola uma outra, sendo esta de papel, que envolvia uns pedaços de pão.
Eu vi um semblante de contentamento, satisfação. O que para mim mais parecia esmolas, pois sua postura física, seu vestuário simples e sujo, me diziam assim. Já para ela era um tesouro muito valioso.
Eu não sei, meu Deus, mas ela sabe quem em sua casa, se é que a tem, dependeria daquelas migalhas para dormir, hoje, saciado.
Então me lembrei do sonho da presidenta do Brasil. A erradicação da miséria no país. E porque aquela mulher ainda vive neste estado? Poderia eu culpar a presidenta? Não. Ela nem sabe se esta senhora existe, vejam só, nem eu sabia! Eu que moro no mesmo estado desta anciã. Além do mais, Jesus afirmou há mais de dois mil anos que os pobres sempre teremos entre nós. Logo, não é possível a erradicação da pobreza e da desigualdade social.
Eu poderia ter jogado aquela pamonha pelo desgosto que sentia meu paladar, mas não o fiz prque aquela senhora não tinha opção e comia restos de alimento. Diante desta reflexão a pamonha ficou mais doce.