De volta para o futuro
Adentramos 2015. Quem tem seus trinta e tantos, ou mais uns quantos, deve lembrar da trilogia “De volta para o futuro” uma das mais bem sucedidas produções do cinema americano nos anos 80.
Pois bem. Eis que o longínquo futuro chegou e acabamos de pousar nossa nave no ano de 2015.
É engraçado olhar em retrospectiva e comparar a visão que tínhamos do futuro com o que de fato aconteceu. Ou que não aconteceu, como na maioria dos casos teima ser. É que a criatividade dos roteiristas costuma ser maior do que a velocidade das invenções.
A tecnologia tem sido veloz, mas ainda não ultrapassou a imaginação. Foi aliás um grande inventor, Albert Einstein, quem disse que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. Um gênio, relativamente falando.
O mesmo gênio de Emmeret Brown, que no filme faz o papel de um cientista maluco, com seus cabelos brancos desgrenhados emulando o famoso alemão e que projetou um carro que não apenas voava, mas também navegava no tempo, levando seu condutor para o passado ou para o futuro.
Tão aí duas coisas recorrentes na ficção científica e que até hoje estamos longe de concretizar: carros que voam (como os retratados nos desenhos dos Jetsons) e máquinas do tempo.
Conseguimos criar automóveis que correm cada vez mais rápido em rodovias cada vez mais lentas e congestionadas, mas nenhuma cidade ainda ostenta rodovias aéreas sobre nossas cabeças. Antes assim.
Para alegria das companhias aéreas, também não chegamos nem perto de criar uma máquina de teletransporte, muito menos algo que nos faça avançar ou recuar no tempo.
Mas é preciso dar algum crédito aos cientistas e inventores de plantão.
Ainda vai levar um tempo, ou talvez nunca chegue o dia em que o moçoilo de Juiz de Fora poderá se anexar num email para sua namorada em Ceilândia, mas o teletransporte de coisas virtuais já é uma realidade acessível e popular. Hoje trafegam por computadores e celulares uma infinidade de filmes, músicas, fotos, arquivos, livros, teses de doutorado e imagens de bebês fofinhos.
E se não temos carros voadores, uma varejista americana, a Amazon, já está testando o uso de drones (aqueles aviõezinhos, quadricópteros controlados por controle remoto) para fazer entregas aéreas no quintal da sua casa. Você está lá esticadão, com o buzanfan pra cima e de repente ploft!, cai um livro de 600 páginas do Dan Brown bem no meio da sua moleira. Modernidade é isso.
Algumas das previsões acabam acontecendo, só que num espaço mais dilatado. O cenário distópico imaginado pelo clássico “1984″, lançado em1949 por George Orwell, acabou se materializando apenas três décadas depois, com esse quase Big Brother a céu aberto em que vivemos nas ruas e nas redes sociais, voluntariamente ou não.
Outra visão recorrente era o uso dos relógios como dispositivo de comunicação (que o espião 007 já usava desde os anos 60), alguns milagrosamente mostrando o interlocutor no visor. Não temos relógios assim, mas a função vem sendo exercida com sobra pelos modernos smartphones. Aliás, corrijo-me: não tínhamos relógios assim, porque em março deste ano teremos o Apple Watch, com funções que vão muito além da ampulheta que mede o passar das horas. Seu momento James Bond nunca foi tão acessível, pelo menos se você puder dispor de um punhado de cédulas verdes com a cara do Benjamin Franklin.
E antes que eu me esqueça de dois dos brinquedinhos mais emblemáticos da viagem de Marty McFly ao ano 2015: um skate (Hover Board) que flutuava sob o chão, fazendo seu usuário literalmente voar, e um tênis que amarrava os cadarços automaticamente.
O skate voador, infelizmente, continua limitado às cenas do filme e à imaginação dos roteiristas.
Quanto ao tênis, a Nike, marca estampada no tênis do filme de 1989, lançou há alguns anos um lote limitado do Air Mag, com o mesmo visual futurista, que foi comercializado num leilão na internet com preços variando entre 2 mil e 10 mil dólares. Além do preço salgado, o tênis ainda não era capaz de ajustar os cadarços automaticamente.
Agora a fabricante promete lançar ainda neste ano um modelo que reproduz as mesmas características do original, numa luta para fazer o presente parecer com o futuro do passado.
O futuro chegou e ainda é um bocado menos impressionante que o previsto há 30 anos.
Mas a gente ainda chega lá.