O PROFESSOR "PI" - De delegado de polícia a Senador da República
Autor: SMELLO - Alberto Frederico Soares Mello.
CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO II
Eis que surgiu uma grande solução: contratar um agrônomo "aneri-
cano", muito recomendado pela sua capacidade, trazia na bagagem a
implantação em "curvas de níveis" no cultivo da terra, porém nunca en-
frentara a "broca do café". O alienígena era idoso, diferente dos profis-
sionais da Secretaria, moços, cheios de sonhos, ideais que floresciam de dar ao País condições de prosperidade e aumento da produção agrí-
cola.O Professor William pouco ou nada falava a lingua portuguesa,ves-
tia-se com roupas excêntricas; calça chamada de "brim coringa", que nem os simples trabalhadores usavam, paleto colorido em xadrez ber-
rante, meias e camisa vermelha, gravata verde e um sapatão de sola-
do duplo de borracha.
Fez o mestre William um contrato por 4 anos de serviços, firmando um salário mensal de 20 mil cruzeiros, superior quatro vezes os venci-
mentos do próprio Secretário. Apresentou desde logo um plano de tra-
balho,sem ao menos ir aos cafezais atacados pela broca.Exigiu os três
mais requestados agrônomos da Secretaria e igual número de secretá-
rias, cinco agrimensores e seus auxiliares, e 5 jeeps.
Os servidores humildes o apelidaram de MINUTISTA, diziam que o a-mericano ganhava por minuto trabalhado, e o quadro funcional era constituido de efetivos, mensalistas, diaristas e tarefeiros, esses "bar-
nabés que ganhavam por serviços executados.
O Secretário Assunção resolveu visitar de trem os municípios plan-
tadores de pés de café,atacados pela broca,dispensando o carro,pois
as estradas eram "macadamizadas", de difíceis acessos, principalmente
nas fazendas, de terra batida, carroçaveis.
A viagem de trem foi pitoresca, não dispunha de nenhum conforto e
a visão dos passageiros, principlamente Dr.William. tornou-se deslum-
brante ao avistarem uma grande extensão de terra verdeal, dava a crer ser uma vasta plantação de arroz, que segundo a lenda, logrou uma comitiva inglesa que viera ao Brasil para formalizar um empréstimo
e os bitânicos aceitaram como aval de garantia do negócio formalizado.
O almoço dos passageiros dar-se-ia às 12 horas, após seis horas do início da viagem. Meia hora antes sobrevinha uma inusitada corrida
dentro do trem, todos queriam estar no vagão da frente que parava no
lugar certo da estação em que ficava o restaurante. O alvoroço come-çava mau o trem estacionava, com a disparada às enormes mesas, já
com pratos e talheres. Os caldeirões, conduzidos por homens e mulhe-
res, em altas temperaturas, impediam a ingestão dos alimentos, geral-
mente extravagantes, difíceis de serem deglutidos. A seguir ouvia-se o apito da partida do trem e m protesto generalizado. E, via de regra, fi-
cam sobre as mesas os pratos cheios, sem que pudessem ser absorvi-
das as comidas. Comenta-se que tudo aquilo era recolhido e guarda-
do para os próximos fregueses.
As comunicações eram feitas pelos telegrafos das estações de trens,ainda não havia telefones em números significativos.
A chegada do Secretário Assunção aos diferentes municípios era avisada através desse meio de comunicação.As principais autoridades e os fazendeiros aguardavam a comitiva com ansiedade. Feitas as apresentações, conduziam os integrantes para as hospedagens e logo
depois rumavam às lavouras, quase sempre condenadas pelo ilustre agrônomo americano. Nelas viam-se os trabalhadores rurais aplicando no cafezal atacado pela broca, o defensivo agrícola BHC, diga-se sem
grande sucesso. Amostras eram colhidas para análises. O que causava
mais temor consistia nos reflexos danosos que sofriam os pobres ho-
mens, castigados pelos efeitos do veneno, e os integrantes da comiti-
va procurava não se aproximar, viam a uma certa distância, que impe-
dia serem atingidos pelo pó do inseticida. Comenta-se que em todos os paises plantadores dé café, só usavam esse meio para acabar com o mal. O Professor "PI", Nico na intimidade dos noradores de Encarna-
ção estava orgulhoso, correu ao telegrafo e mandou uma mensagem ao
seu Chefe de Gabinete recomendando entrar em entendimentos com as
indústrias estrangeiras, produtoras do BHC e adquirisse mais 25 tonela-
das da matéria química, sem ao menos pensar onde poderia estocar a-
quela quantidade.
Geralmente a comitiva ficava instalada em grandes barracões das
fazendas, impróprias para hospedagens, destinadas à armazenagem de
uitensílios agrícolas,sacas de sementes e até inseticidas.Resguardavam
o Secretário e o agrônomo americano em aposentos dentro da casa principal da fazenda, porém as instalações sanitárias e banheiros fica-
vam nas dependências externas. Essas dificuldades causavam verda-
deiro mal-estar, obrigando-os a partirem antes mesmo de planejarem os serviços que propunham aos proprietários dos cafezais.
A viagem durara pouco mais de 25 dias, o mestre "minutista" não fi-
cara satisfeito, demonstrava irritação pelo que assistia e examinara, em consequência os resultados, pouco profícuos, o desestimulara. Reu-
niu os colegas brasileiros para traçarem outras estratégias.
A notícia que recebeu o Secretário Assunção o deixou arrebatado,
vinha de encontro aos seus propósitos. D Dalila se aposentara e afastou-se de imediato do gabinete. Conjeturou sem demora, Iracema não tinha aptidões para substituir a provecta funcionária, poderia quando muito ser recepcionita, faltava-lhe também entrosamento com os demais órgãoss da Secretaria, arraigou-se a convicção de convo-car Adelaide lá de Encarnação, possuidora de grande experiência na Prefeitura. Dessa forma, reunia o útil ao agradável, rememoraria seus
momentos amorosos. E,como reagiria sua esposa Aurora,teria ele con-
dições de contornar a situação. A saida de D.Dalila depurou as idéias de Nico, liberara suas intenções, restaria, apenas, saber-se como seria o comportamento de sua mulher.
Ao chegar ao hotel nada contara a Aurora, aguardaria melhor opor-tunidade.Historiou detalhadamente a viagem, o sucesso que tivera com
os fazendeiros e o meio rural. Não se conteve e criticou a má impres-
são causada pelo Dr.William, suas exigências e comentários desairosos
feitos sobre as plantações de café, para o americano tudo estava errado,valorizando-se.
Aurora,sóbria nas atitudes,escondia seu lado ladino,a serenidade
não çhe tirava a argúcia; era sabedora de tudo que se passava no ga-
binete do marido, por isso mesmo tomara conhecimento da aposenta-
doria de Dalila, não foi grande surpresa quando pela manhã Nico deu-lhe notícias dos últimos acontecimentos e aproveitara para comentar
que estava inclinado a convidar Adelaide a assumir o cargo, argumen-
tando que precisava de uma secretária capacitada e de grande experi-ência. Disse mais, sei que ela não lhe é simpática,sem justo motivo, acreditava serem aversões do passado, oriundas de bisbilhotices das
mexeriqueiras de Encarnação. Aurora não reagiu, apenas maliciosamen-
te comentou que a providência poderia desmoralizá-lo como Secretá- rio. Transmitiu aos filhos e a filha o pensamento do pai.
O velho agrônomo americano, depois de muito discutir com os cole-
gas brasileiros,resolveu formalizar um plano de combate à broca do ca-fé, seria imprescindível o "sombreamento" dos cafezais, medida provi-
dencial que acabaria para sempre com aquela praga. Acreditava que essa seria uma justificativa que honraria o salário que recebia. O fra-casso da missão e o tal novo plano impraticável, em face do tempo pa-
ra o crescimento do arvoredo a ser plantado, facilitaria na sua saida.
Os outros técnicos raciocinavam, como seria possível fazer-se o sombreamento na extensão da área plantada de pés de café, interla-
ladas, e por último quanto tempo seria necessário ao crescimento das
árvores. A exportação sucumbiria, enquanto se aguardava o efeito do
plano. Pouco mais durou a permanência do Dr.Willian, o "minutista". Foi
um alívio para o Secretário a rescisão do contrato com o americano, porporcionou melhor entrosamento na aquisção do BHC que lhe rende-
ria ótima percentágem, destinar-se-ia à futura campanha política.
Outro grande embaraço para o Secretário de Agricultura surgiu com
a constituição das empresas produtoras de sucos,especialmente de la-
ranjas, quase todas de capital estrangeiro. Seus técnicos achavam que
a fruta produzida no Brasil, não rendia suco suficiente à movimentação
da fabricação, apesar de saboroso. Apresentaram um plano de substi-
tuir a plantação de laranjeiras primitivas por outras que derivavam la-
ranjas de maior quantidade de caldo, levando-os os produtores a intro-
duzir a chamada laranja pêra. Dizimaram os pés de laranjas, seleta,
"Bahia", natal e outras mais. Assunção que pouco ou nada entendia do
assunto, pois foi sempre ligado à pecuária, convocou os agrônomos, que melhor poderiam opinar, mas nunca esquecendo das vantágens prometidas pelas industrias estrangeiras, participação nas suas ações.
Acabou-se dessa forma, quase totalmente, a fruta originária, por ou-
tra de sabor não tão apreciado.
Adelaide já inteiramente entrosada no gabinete, poduzindo tanto ou
mais que a antiga secretária, D.Dalila,conseguia despertar atenção em tudo que se dedicava,nos grandes chefes da repartição.sem dispensar
carinhos e galanteios a Nico,próprios de uma concubina.Inevitavelmen-
te chamava atenção de todos. Quando nas saidas do trabalho os dois
despertavam maior curiosidade e, quase sempre, os encontros davam-
seno cassino. Seus trajes cada vez mais exuberantes, diversos dos o-
riundos do interior, finos, de bom gosto, tecido de melhor qualidade e
da época, preponderava.
A atividade funcional transcorria sem maiores problemas, até que
num belo dia o Governador convocou o Secretário para ir ao palácio,te-
ria uma nova missão para ele.O Secretário de Educação ia se ausen-
tar do País pelo período de um mê, representaria o Governo em Portu-
gal diante do onclava que alteraria aspectos da lingua portuguesa, e o
Professor Nicomedes Campos da Assunção iria substituí-lo. Como as a-
tividades naquela Pasta eram muito expressivas,o Dr.Demostenes assu-
miria a Secretaria de Agricultura. O Prof. PI ficou lisonjeado com o con-
vite,seria mais uma oportunidade que se abria no campo político, favo-
recendo às ambições de chegar a Governador ou Senador da República.
O Professor Assunção apresentou-se à Secretaria de Educação dois
dias após a partida do titular.Os membros do gabinete, diferentes dire-
ferentes diretores e assessores lá estavam para cumprimentá-lo e aguardar instruções de procedimentos. Assunção expressou-se inicial-
mente que não pretendia fazer qualquer mudança,todos permaneceriam
nos lugares que exerciam suas funções, até o regresso do Secretário Torres. A primeira impressão dos presentes lhe foi favorável, embora houvesse restrição ao uso do charuto, impróprio ao ambiente,sempre frequentado por diversos professores. A fidalguia no trato concedido pelo titular conflitava com a aspereza do Profesor PI, acostumado no
interior, primeiro lidando na Polícia Militar, depois com presos na dele-
gacia e finalmente com a rudeza dos empregados da fazenda, o torna-
ram um homem abrutalhado.
Recebeu em audiência previamente marcada o Reitor e Diretores das faculades do Estado, que demonstraram desde logo admiração ao
saberem que era mestre em matemática, cátedra desfalcada no instituto superior de ensino. Modestamente esclareceu o Secretário in-terino que sua experiência se restringia ao curso colegial e não ao superior. Falou-se na conversação, que com a introdução do plantio em curvas de nível, a faculdade de agronomia prescindia de professor de geometria, plana e analítica, tornava-se, portanto, indispensável à
colaboração efetiva do Professor AZssunção.
Enquanto issoo Dr. Demóstenes conduzia os destinos da agricultura
modestamente, com um sério problema deixado pelo antecessor, onde estocar e como distribuir, racionalmente, a enorme aquisição do BHC, afora a afetação da saúde, alergia e respiratória, causada nos aplicadores do produto. Comunicara-se com o Secretário da Saúde para atenuar a situação e, tambem,com a estrada de ferro, visando dar escoamento ao inseticida.
O novel Secretário enfrentava uma nova dificuldade, a chamada
"ferrugem nos laranjais", o que fez diminuir ainda mais o volume das frutas, aspecto negativo à exportação.
Estava empolgado com Iracema, fazendo nascer atenção geral. A
afeição profunda, motivava encontros fortuitos, evidentemente não no hotel cassino, por motivos óbvios, evitava encontrar o Secretário Assunção. Frequentava outros lugares, discretamente.
O carnaval estava próximo e os bailes que antecediam, constantes às tardes, não causavam traumas familiares. O Secretário Assunção estreitou amizade com o Presidente do Tribunal de Justiça que lhe convidou para´participar do famoso "Baile da Balança", reunião destinada apenas ao pessoal forense. Ótima frequencia, sóbrio,sem sem possibilidade de qualquer reconhecimento. A entrada estava protegida pela chamada "Polícia Especial", que mantinha respeito e qaundo chamada de emergência, seus bonés vermelhos reconhecidos à
distânciafaziam cessar imediatamente quaisquer disturbios. Naquele anorealizou-se no Hotel Glória. Três orquestras animavam os foliões. O
Secretário Assunção reservou-se de máscara, impossibilitando sua i-dentificação e alugou um apartamento, tornando-se participe da monu-
mental festa, diversa das ocorridas no interior. A balburdia tomara con-
ta do ambiente e os garçõns não conseguiam atender a todos, nem mesmo as própias mesas. Os balcões dos diferentes bares, abarrotados
de foliões, estavam impedidos de dar atenção aos sôfregos fregueses.
O Professor Assunção se divertia no salão com duas jovens, uma em
cada braço, destilavam suor, locas de sede, sem a menor condição de onter uma bebida e queriam"Cuba Livre"(aperitivo dominante na época),
tentou de todas as formas para conseguir de um garçom, mesmo no balcão, sem qualquer resultado, deu uma de Professor PI, foi de mesa em mesa, as que estavam vazias apanhou dois copos meios cheios e os completou com os líquidos encontrdos nas outras taças. Maravilhoso
sucess, de incontestável resultado, rendeu-lhe profícuo agradecimen-
tos no apartamento locado no hotel.
Como Secretário de Educação inspecionou alguns grupos escolares
e principalmente liceus, próximos à Capital, porque não poderia afastar-
se muito, senão a Secretaria ficaria acéfala, pois não havia substituto.
As reuniões nas escolas visitadas tinham por propósito incentivar a
constituição de cooperativas escolares, planejamento que facilitaria a
aquisição de material e uniformes aos alunos. Certa feita, após uma dessas reuniões, notou que a diretora da escola, flertava imprudente-
mente com ele, chamando atenção de todos os presentes. Ficou admi-
rado, pelo desrespeito à sua autoridade e especialmente em face da a-
vançada idade da mestra. Não deu muita importância, fez-se de de-
sentendido,mas ao final ela não se eonteve e nem teve pejo,convidou-
lhe a permanecer um pouco mais tempo,depois da saida dos participan-
tes. Começou a demonstrar certas intimidades e forçá-lo a uma inte-
ração. Correspondeu, relembrou os velhos tempos de Professor PI. E o
idílio acabou alí mesmo sobre a mesa principal da reunião. A Diretora disse mais, abalando-lhe a mente: -Isso é tão bom e eu que poderia ser sua mãe...
De volta à Secretaria de Agricuktura, deparou-se com uma posição
inédita, que o faria ser um grande administrador e o introdutor no País
da maior cultura agrícola de todos os tempos.
"DEIXANDO DE LADO A FICÇÃO E NARRANDO UMA VERDADE QUE
ACONTECEU, NÃO COM O SECRETÁRIO IMAGINÁRIO, MAS COM UM
SECRETÁRIO VERDADEIRO", ATÉ COMO HOMENAGEM AO EMPREN-
DEDOR, IDEALISTA".
O Secretário de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro recebeu a
informação de auxiliares valorosos, que havia um agronomo de grande
valor, DR. DOMINGOS ABBÊS, detentor de um plano original para o Brasil, oriundo do oriente, "forrageira" altamente nutritiva, fácil de ser
plantada, de rápida produção e colheita: A SOJA!
Convocou-lhe a ir ao gabinete e com ele vieram mais alguns outros
agrônomos. Apresentado a S, Exª a amostra que trazia, cvujos grãos
eram maiores que o do trigo e redondos. Exibiu os planos, detalhando o rendimento por área plantada , os resultados do aproveitamentos, não só das sementes como da folhagem. Informou ao Secretário que arrendara pequeno terreno, em carater experimental e nele plantou os grãos obtidos por benevolência na Embaixada do Japão. A farinha deri-
vada, alva como a do trigo, o pão e o bolo que mandara preparar foram
exibidos a S. Exª, que viu aquilo tudo até com certa atenção, para a seguir proclamar com estapafúrdio comentário: "Dr. é muito interessan-
t, mas não creio que o agricultor brasileiro vai se seduzir pelo plantio, isso é muito bom para raça amarela, chines ou japonês". Acabara, na-
quele momento a contribuição do Estado para o cultivo do promissor
cereal, consagrado entre os orientais. Confundia-se o então Secretário
de Agricultura com a figura folclórica do nosso personagem.
Evidencia-se que o Secretário de Agricultura não era um homem de
visão, nem tinha capacidade de trazer para o Estado os meios de pro-gresso ao cultivo da terra.
Ainda assim,inaugurou uma exposição original de flores e frutos pro-
duzidos no Estado, acontecimento de relevo internacional no famoso
Hotel Quitandinha, em Petrópolis, com a presença do Presidente Getúlio
Vargas e inúmeros embaixadores, projetada por Burle Max e organizada
pelo célebre Dr. Abbês. A realização foi tão memorável, teve tamanha repercussão, que no ano seguinte a Holanda mandou em embalagens
especiais, refrigeradas, suas admiradas tulipas, que se constituiram na predileta curiosidade dos visitantes. O Professor Assunção beneficiara-se com a exposição, tornara-se alvo do comentário generalizado e profícuos cumprimentos.
O RETORNO À ESCOLA
Paassadas as férias, iniciou-se o período escolar e o Professor As-
sunção apresentou-se na Escola de Agronomia, em atenção aos convi-
tes do Reitor e do próprio Diretor. Foi recebido pelo corpo docente, en-caminhado à turma a qual ministraria as aulas de geometria. Ultrapas-
sara o ranço de outras épocas, quando reprovava o aluno, forçando a ter aulas particulares com ele próprio. Mais austero e atitude de magis-
trado, ainda assim, despertara desde aquele instante o interesse pelo
estudo do PIalertando não somente a fascinação, como o envolvimen-
to simétrico circular. O PI, segundo comentava, estava associado as
idéias circulares e esféricas, e os alunos fariam sistemáticas aplicações
nos traçados das curvas de níveis quando das plantações.
Seria interessante dizia, que os alunos se dedicassem, mesmo que não
profundamente, em razão da complexidade da constante, ao estudo dos métodos de aproximação de seu valor, para facilitar a exatidão de
seus trabalhos. Como ensaio experimental, no primeiro dia, passou alguns trabalhos que envolviam o PI.
O Secretário Assunção teve que conciliar os horários, compatibili-
zando-os da repartição com o da escola. Dava ao da escola toda aten-
ção possível, primeiro em reconhecimento às deferências dispensadas
pelos Reitor e Diretor., depois a dedicação dos alunos. Vez por outra tinha de viajar ao interior, o que não constituia problema, o substituto correspondia satisfatoriamente. A parte teórica estava adiantada e os
alunos acompanhavam com grande interesse. Chegou o momento da a-
plicação prática no campo, daquilo que aprenderam, despertando maior curiosidade e interesse. Para Assunção não ocasionava maiores
dificuldades em face da experiência que tivera na fazenda,embora a in-
trodução dos métodos de plantações em curvas de nível fosse novida-
de, não obstante, foram tantos os estudos do PI, aplicados nos círcu-
los, circunferência, cálculo do perímetro de polígonos regulares e cir-
cunscritos que facilitaram as execuções.
A projeção política de Assunção crescia face ao aumento constan-
te de ligações com terceiros, especialmente homens do interior, ligados
ao meio rural.A campanha de combate à broca do café estava conclui-
da e os produtores voltaram a ter tranquilidade.
O romance mantido com Adelaide ficara mais acalentador, derivan-
do comentários desairosos, isso conflitava sua posição social.
Seu filho mais velho, Evangelista, concluira o curso de medicina,es-
tava em estágio probatório, quando recebera no consultório em que praticava a profissão, a filha de Adelaide, Tereza, antiga conhecida de
Encarnação,sentindo fortes dores abdominais,ao vê-lo foi logo dizendo:
não permito que você me examine,obrigando a enfermeira chamar o fa-
cultativo. Esse explicou a Tereza que era praxe do ambulatório, primei-
ro o estagiário, sextanista, proceder o exame, dava seu diagnóstico, depois o médico titular confirmaria ou não, ratificando ou alterando. A
doente conhecida de Evangelista não hesitou, externando que sua recusa à norma decorria da origem do estagiário,pois"filho de peixe,pei-
xinho é"! Seu pai era um virtual desrespeitador de senhoras e moças,
inescrupuloso,de má reputação na cidade de que provinha.Agora mes-
mo, convidara sua mãe para ser sua secretária e a estava desrespei-
tando, comprometendo-a na dignidade. Reafirmava-se a má fama de Nico, Professor PI, Secretário do Governo. Para quem não sabia, a sur-
presa foi total e, igualava-se o estudante, em breve médico, ao com-
portamento do pai, comprometendo-o lo no início da carreira.
Não obstante a reputação negativa de que possuia, o Professor Ni-
comedfes Campos de Assunção gozava de prestígio perante seus alu-
nos na Faculdade de Agronomia. Nem a corruptela que faziam da jun-
ção de seus apelidos impedia que fosse escolhido paraninfo da turma de agronomia, sucesso imprevisto entre o corpo docente. Alcançava,
dessa forma,mais uma conquista,porque não dizer,também política, o
Secretário de Agricultura.
A CORRIDA À CANDIDATURA AO GOVERNO ESTADUAL.
A movimentação política no Estado tomava maiores atenções do
povo. Os partidos se desdobravam em conchavos e acordos tentando
escolher os candidatos que gozavam de maiores prestígios entre a po-
pulação, subestimando os adversários. A avaliação começava desde a
origem nos municípios, até ao desenvolvimento que o candidato tivera nos últimos anos. Nicomedes conseguira galvanizar maior renome, difi-
cil de ser ultrapassado. Galgara paulatinamente todas as posições políticas no Estado, surgira das camadas mais humildes. Sargento, Subtenente da Polícia Militar, Delegado de Polícia no interior, Vereador,
Prefeito,Professor,até chegar a privilegiada situação de Secretário Es-
tadual. Envolvera-se em inúmeras atividades, fazendeiro, embora protegido e favorecido pelo sogro, economista, profundo conhecedor da constante "PI", grau de reconhecimento internacional, figura enig-
mática pelas extravagâncias, desde o modo de vestir-se, habituado ao
uso de chapéu, inseparável do abominável charuto, tudo isso tornara-
o um carismático político.
Não dispunha de uma equipe para traçar planos e fazer projetos de
campanha, por ser personalista excessivo; muito menos à sua plata-
forma de governo. Tal, foi por pouco tempo, logo se apresentaram po-
líticos profissionais e tecnicos capacitados em diferentes áreas, facul-
tando auxuliá-lo. Os contatos com homens experientes na arte dos entendimentos relativos aos negócios públicos começaram a se aproxi-
mar, externando idéias, delineando condutas de comportamento que
combateriam os prováveis adversários, paralelamente na oportunidade
portavam suas reivindicações. Nicomedes sempre os atendia com o charuto na boca e aplicava aquele velho procedimento. Combatia como podia as provocações e as tendenciosas imputações à sua mo-
ral, sem atacar candidatos em projeção. Às reuniões, jantares e sole-
nidades comparecia acompanhado da filha Joana, que graça a simpa-
tia conseguia atrair atenções e confiança à pessoa do pai. Não aban-
donara totalmente a frequencia do bar do cassino, que sempre rendia notícias novas e comentários sobre candidatos mais evidentes e as co-
ligações que pretendiam se estabelecer.
Os municipios, antes visitados, deixara para voltar ao final da cam-
panha, malícia decorrente das promessas feitas e nem sempre cumpri-
das satisfatoriamente. Dava mais atenção às localidades onde nunca
estivera, porque constituia sempre uma expectativa à sua presença,
com trocas de comentários prós e contras. Enfim se sentia preparado
para enfrentar os opositores.Uma surpresa estava por vir,o lançamen-
to da candidatura de um médico, grande usineiro, que reunia projeção
entre os principais próceres da facção e recursos financeiros para en-
frentar a campanha.
O partido se congregou com todas as suas lideranças e após rápida
discussão, o presidente comunicou oficialmente ao lider Assunção, o que decidiram, o Dr. Miguel fora escolhido para ser o candidato a Go-
vernador e ele seria o principal concorrente ao Senado Federal, teria
pleno apoio de todas as facções. O Professor PI aceitou, sem contes-
tar a resolução. Confirmara-se seus arremessos, estava tudo dentro
dos planos arquitetados e, atingir essa posição, coroava o esforço que tivera durante longos anos. Pensou nos sonhos e reminiscências de ou-
trora, guardados desde da época que fora Prefeito em Encarnação e disse para sí mesmo, até que ser Senador não era mal...
A campanha transcorria normalmente, os comícios se sucediam em
diversos lugares e municípios, os candidatos procuravam demonstrar
suas capacidades administrativas, nem sempre do agrado do eleitora-
do. Havia um atropelo pelo fluxo de candidatos, uns querendo serem os primeiros a se expressar, suas idéia e plataformas, antes dos adver-
sdários e, também, manifestações dos próprios correligionários; outros
preferiam falar depois, colhendo de surpresa os colegas partidários. As-
sunção guardava palavras para serem usadas em momentos oportunos,
solidarisava-se sempre com o Dr. Miguel, ganhando com essa atitude
posições no seio do partido. Sua figura não mudara, charuto à boca,
voltara a colocar o chapéu de abas largas e usava palavras eufêmicas,
com as quais tentava ofuscar seu passado. Certa feita, num lugar pró-
ximo à Encarnação temeu a possível presença de Francisquinho,eterno
desafeto, desde das aulas particulares em sua casa,tal não conteceu,
aliviando a intranquilidade do candidato.
Houve, porém, um episódio provocante que perturbou Nico, alguns ex-alunos começara, a interpelá-lo, com a expressão corriqueira usada em Encarnação, a junção do PI,cacofonia desmoralizante.O pior,porém,
foi quando um grupo começou a molestá-lo, chamando-o de golpista e
poltrão. É que quando fizera o Curso de Oficiaiss da Reserva,a fim de
evitar o retorno à Polícia Militar, na 2ª Guerra, Nicomedes numa marcha
forçada simulou um desmaio nos primeios quinze quilometros, o que o
levou a ser assistido pela ambulância que acompanhava a tropa, esse
golpe lhe poupou de realizar a marcha de todo percurso.
(FINAL DO 2º CAPÍTULO, NO PRÓXIMO DIA 6/6/07, O 3º E ÚLTIMO
CAPÍTULO)