Minha história de amor

Para Manoel Francisco

Como toda mulher, gosto de filmes românticos. Meus olhos brilham marejados pela emoção diante da tela. Tendo, como outras, a idealizar a figura masculina depois de um bom filme de comédia romântica. Nessas horas não acho par na realidade – afinal eles, os heróis, são maravilhosos em tudo!

Mentira! Também tenho uma história de amor! E mais: ela é palpável, concreta, real.

Há um sorriso na tela. Impecável. Daqueles de filmes! Há um sorriso na minha memória. Impecável. Inesquecível. O seu.

A primeira vez que o vi, não fui capaz de perceber que havia chegado meu par, mas pude perceber um sorriso entre o tímido e o envaidecido diante do meu olhar. A história apenas começava e nós nem sabíamos o quanto ela seria intensa. Era apenas a apresentação das personagens principais e nenhum outro autor poderia tê-la escrito com maior beleza.

Há um encontro na tela. Uma dificuldade de admitir que algo pode mudar pra sempre suas vidas.

Encontram-se e desencontram-se.

É assustador.

É desconcertante.

É definitivo.

Houve um primeiro beijo. Desajeitado, preocupado, competitivo. Cada um do seu lado da página, tentando ser mais que o outro.

Mas a história só começa depois do segundo, porque esse – ao contrário do outro – foi desejado, ainda que o primeiro tivesse sido. Entretanto do segundo, fugimos. Tivemos medo.

Desencontramo-nos por opção.

Há vilões nas histórias de amor. Surgem quando não esperamos de onde nunca suspeitaríamos. Cena comum, sem criatividade. As personagens aqui, todos sabem como são. Os mocinhos sofrem, a plateia sofre, o coração se aperta.

Nossos vilões nunca puderam nos ver separados, nunca puderam mudar nossa história, por um dia sequer. Existiram. Tentaram. Não conseguiram.

Ainda não chegamos ao final. Somos felizes a cada dia. Nossa história tem momentos difíceis, tem choro, raiva... sobretudo tem amor!

Eu me emociono com histórias românticas, paixões profundas! Gosto de me sentar em frente à tela e descansar vendo belas paisagens, figurinos, atores e textos. Por que não?

Para vida real, entretanto, escolhi escrever com você uma história inédita, passada apenas entre nós: há dias em que as cenas são opacas, noutros escuras e em outros reluzentes. Há dias em que desacreditamos da história, há outros em que queremos reescrevê-la.

A cada dia sempre, indubitavelmente, escrevemos juntos as próximas cenas ou as próximas versões da nova história que viveremos. Sempre melhores. Sempre nossas.

Sim. Ainda dizemos sim um para o outro. Desde o primeiro olhar, desde o primeiro encontro, desde o primeiro beijo, desde o primeiro desencontro.

Estamos em cartaz, há vinte e cinco anos sem ser sucesso de público. Os vilões mudaram. Existem, tentam. Não podem. No momento servem para manter a plateia desperta. A história viva. Mesmo eles sabem que têm papel secundário, afinal estamos na mesma página. Depois de muito filme rodado, não há desencontros, há a certeza de que este filme é um clássico! De que nós somos um.

VALERIA DA SILVA
Enviado por VALERIA DA SILVA em 18/01/2015
Reeditado em 18/01/2015
Código do texto: T5106380
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