D. Judite
Confesso que estava morrendo de medo.
Pedir permissão a uma personagem viva para publicar uma crônica onde se fala com todas as letras de um episódio erótico, embora dos mais inocentes, entre ela e o cronista não é nada fácil. Mas eis que Judite — viúva, assumidamente fogosa e dona do seu próprio nariz — achou uma glória a divulgação desse momento privilegiado. E até exagerou um pouco no e-mail com que respondeu positivamente ao meu pedido: “Luiz, meu querido, foi a abordagem masculina mais poética de toda a minha vida. Conte, meu amor. Conte tudo.”
Contemos.
Não era a primeira vez que pegávamos o mesmo elevador no saguão do prédio, mas ontem a cinqüentona do 719, uma paquera dos meus primeiros tempos naquele endereço, parecia muito excitada, distribuindo simpatia. Apertava contra o peito um envelope amarelo e não desgrudava os olhos dele, toda orgulhosa, puro êxtase.
Assim que saltamos, não se conteve:
“Estou com as fotos da formatura da Carminha aqui. Quer dar uma olhada?”
“Vamos a isso”, respondi, disfarçando minha timidez com essa peremptoriedade meio babaca. No entanto, bem lá no fundo, lamentava que não fossem fotos de praia, pois a filha dela, que agora trabalha em Fortaleza, fecha mais comércio do que traficante de drogas.
Não me entregou o envelope. Parados no meio do corredor deserto, Judite ficou de costas para mim, quase apoiada em meu peito, e eu espiava por cima do seu ombro direito enquanto ela ia passando as fotos. Numa delas, soltou um profundo suspiro e, sem olhar para trás, balançou-a diante dos meus olhos, indagando:
“Não é linda?”
Claro que era linda, lindíssima.
Mas, tomado de súbita inspiração, limitei-me a dizer junto ao seu ouvido:
“Teve a quem puxar.”
Ela sentiu o tranco. Não sabia onde enfiar a cara, toda vermelha, engrolou duas ou três palavras, sem fôlego, tentando ou fingindo concentrar-se no pequeno álbum de fotografias. Ainda assim, eu mesmo muito temeroso quanto ao que devia fazer em seguida para não deixar a peteca cair, reparei que seus mamilos tinham ficado duros, por muito pouco não lhe furavam a blusa de malha fina. Dava para suspeitar que tinha grandes aréolas, como duas mandalas vivas e famintas de dentes.
Pousei imediatamente a mão esquerda em seu ombro e pressionei, como um recado definitivo. Enlacei-a por trás e trabalhei com infinita paciência os seus peitos, com toda essa disponibilidade para o carinho que Deus me deu. Curiosamente, eu é que estava fazendo Judite perder a cabeça, bagunçando a versão bíblica. Ela gemia, entregando-se toda.
Por fim, nos beijamos, um beijo longo, esfomeado, numa tal confusão de línguas que era difícil dizer quem estava mais a perigo.
Em suma, no papo. Ambos, naturalmente.
[16.9.2006]
Confesso que estava morrendo de medo.
Pedir permissão a uma personagem viva para publicar uma crônica onde se fala com todas as letras de um episódio erótico, embora dos mais inocentes, entre ela e o cronista não é nada fácil. Mas eis que Judite — viúva, assumidamente fogosa e dona do seu próprio nariz — achou uma glória a divulgação desse momento privilegiado. E até exagerou um pouco no e-mail com que respondeu positivamente ao meu pedido: “Luiz, meu querido, foi a abordagem masculina mais poética de toda a minha vida. Conte, meu amor. Conte tudo.”
Contemos.
Não era a primeira vez que pegávamos o mesmo elevador no saguão do prédio, mas ontem a cinqüentona do 719, uma paquera dos meus primeiros tempos naquele endereço, parecia muito excitada, distribuindo simpatia. Apertava contra o peito um envelope amarelo e não desgrudava os olhos dele, toda orgulhosa, puro êxtase.
Assim que saltamos, não se conteve:
“Estou com as fotos da formatura da Carminha aqui. Quer dar uma olhada?”
“Vamos a isso”, respondi, disfarçando minha timidez com essa peremptoriedade meio babaca. No entanto, bem lá no fundo, lamentava que não fossem fotos de praia, pois a filha dela, que agora trabalha em Fortaleza, fecha mais comércio do que traficante de drogas.
Não me entregou o envelope. Parados no meio do corredor deserto, Judite ficou de costas para mim, quase apoiada em meu peito, e eu espiava por cima do seu ombro direito enquanto ela ia passando as fotos. Numa delas, soltou um profundo suspiro e, sem olhar para trás, balançou-a diante dos meus olhos, indagando:
“Não é linda?”
Claro que era linda, lindíssima.
Mas, tomado de súbita inspiração, limitei-me a dizer junto ao seu ouvido:
“Teve a quem puxar.”
Ela sentiu o tranco. Não sabia onde enfiar a cara, toda vermelha, engrolou duas ou três palavras, sem fôlego, tentando ou fingindo concentrar-se no pequeno álbum de fotografias. Ainda assim, eu mesmo muito temeroso quanto ao que devia fazer em seguida para não deixar a peteca cair, reparei que seus mamilos tinham ficado duros, por muito pouco não lhe furavam a blusa de malha fina. Dava para suspeitar que tinha grandes aréolas, como duas mandalas vivas e famintas de dentes.
Pousei imediatamente a mão esquerda em seu ombro e pressionei, como um recado definitivo. Enlacei-a por trás e trabalhei com infinita paciência os seus peitos, com toda essa disponibilidade para o carinho que Deus me deu. Curiosamente, eu é que estava fazendo Judite perder a cabeça, bagunçando a versão bíblica. Ela gemia, entregando-se toda.
Por fim, nos beijamos, um beijo longo, esfomeado, numa tal confusão de línguas que era difícil dizer quem estava mais a perigo.
Em suma, no papo. Ambos, naturalmente.
[16.9.2006]