A Bolsa da (des) educação - uma pena

No final do mês de julho do ano de 2010, numa escola pública do interior do País, um professor dava aula para alunos do terceiro ano do segundo grau, onde a evasão é cada vez maior.

Um dia, depois de quase três meses sumido das aulas, eis que apareceu um jovem diferente na sala, com seus 16 a 17 anos, e após assistir o final da aula sem qualquer participação, esperou o professor terminar tudo e foi até ele e disse:

- Professor, o sinhô sabe que eu sou desta turma?

- Como é o seu nome – indagou o professor.

- Meu nome é Wasdeslei dos Santos de Jesus, mas sou mais conhecido como tragoso.

O professor meio que surpreso quis saber a origem do apelido.

- Tragoso é traficante perigoso. Concluiu o rapaz.

- Hum. O que o traz aqui, depois de tanto tempo sumido das aulas?

- É porque nóis toma conta de uma boca de fumo, se não for ou então fizer coisa errada, recebe "gancho", porque os cara quer invadir e tomar nossa venda aqui no bairro. O sinhô sabe que eu recebo quatro bolsa famia e só vou perder a bolsa se eu tomar pau por falta. Mas se eu perder a bolsa, eu mato o sinhô.

Foi um espanto para o professor, depois de tantos anos dando murro em ponta de faca, para tentar levar um pouco de cidadania àqueles jovens, tratando-os como filhos, receber uma punhalada frontal no canto da parede de uma sala, exatamente por alguém que ele queria tanto ajudar.

- Tragoso, disse o professor. Você é quem está se matando. Um jovem bonito e forte, deixando de obter conhecimento no presente para sair dessa vida e ter um melhor futuro, está trocando as margens calmas do rio pelas correntezas da morte. Não se preocupe, vou levar a sua solicitação à direção do colégio e ao conselho de classe, se for necessário, retirando todas as suas faltas.

Naquele dia, o professor levou o assunto à diretoria, sendo retiradas todas as faltas de tragoso.

No início do mês seguinte, ouviu-se no rádio que ocorreu briga de gangs rivais no bairro e três adolescentes morreram em troca de tiros. Só se falava nesse assunto no colégio. Um deles, infelizmente, havia sido Wasdeslei. O futuro chegou mais depressa do que ele esperava. Deixou uma mulher com os quatro filhos sem pai, amparados pelo programa assistencialista do governo, que nesse caso não ajudou em nada, para dar uma vida mais digna ao adolescente.

Ao saber do trágico episódio, o professor entrou em profunda depressão e deixou o ensino. Aquele foi o último dia do professor na profissão.

Isso vem acontecendo no País inteiro, de norte a sul, de leste a oeste, só não vê quem é cego.

(O nome e apelido do adolescente foram modificados, para preservar a sua verdadeira identidade)