Uma Tarde, Um Domingo
Naquela tarde de domingo a fome bateu à porta.
Preguiças de vida, saí em busca dum restaurante pelo bairro.
No primeiro, considerável fila de espera.
Minha fome tinha pressa. Eu também: um compromisso às cinco da tarde.
No segundo, com tranquilidade e comida de qualidade, me sentei.
Retomo o caminho de volta a casa. Ruas vazias, poucos carros circulando.
Num trecho praticamente deserto fui abordada por um homem alto, magro, faces meio encovadas. O previsível “pode me arranjar um dinheiro” aconteceu.
Respondi um tanto assustada: não tenho!
Postou-se ao lado, caminhando e insistindo. Foi quando me mostrou um recorte de embalagem de remédio dizendo que dele necessitava (tinha problemas de nervos, no seu linguajar).
Em estado de alerta máximo, ziguezagueava de um lado para outro na calçada tentando me desvencilhar da companhia mais do que suspeita. Mas não desgrudava.
Pensei rápido: vou arriscar e ver até onde vai dar!
- Compro o seu remédio. Sigamos em frente: há várias farmácias.
- Não, vamos voltar. Para trás tem uma que vende mais barato.
- Não volto!
Escolhi uma e, do nada, atravessei a rua. Entrei noutra (coisas de Deus).
Ele ficou na porta, eu direto ao balcão. Pedi informação: só com receita, minha senhora, respondeu o vendedor.
De imediato expliquei: vê aquele homem parado na entrada? Vem me acompanhando, querendo dinheiro insistentemente, apresentou-me este fragmento de embalagem como necessidade. Vou devolvê-lo e volto. Aguardo um tempo até que ele se vá.
Abrigada, dois funcionários colocaram-se à porta observando o indivíduo que empacara frente ao supermercado próximo à espera da minha saída.
Passaram-se uns dez minutos até que me dei conta de que a farmácia escolhida ficava numa esquina. Saí pela porta lateral, fora do alcance de sua visão e cortei caminho.
Cheguei sã e salva!
Mais tarde, cumpri meu compromisso: assustada, não intimidada.
Tardes de domingo... onde estão as calçadas tranquilas?
Por onde passeiam as famílias?
Estariam meus almoços em tardes de domingo, quando sozinha, condenados ao delivery?
Rogoldoni
07 12 2014
Naquela tarde de domingo a fome bateu à porta.
Preguiças de vida, saí em busca dum restaurante pelo bairro.
No primeiro, considerável fila de espera.
Minha fome tinha pressa. Eu também: um compromisso às cinco da tarde.
No segundo, com tranquilidade e comida de qualidade, me sentei.
Retomo o caminho de volta a casa. Ruas vazias, poucos carros circulando.
Num trecho praticamente deserto fui abordada por um homem alto, magro, faces meio encovadas. O previsível “pode me arranjar um dinheiro” aconteceu.
Respondi um tanto assustada: não tenho!
Postou-se ao lado, caminhando e insistindo. Foi quando me mostrou um recorte de embalagem de remédio dizendo que dele necessitava (tinha problemas de nervos, no seu linguajar).
Em estado de alerta máximo, ziguezagueava de um lado para outro na calçada tentando me desvencilhar da companhia mais do que suspeita. Mas não desgrudava.
Pensei rápido: vou arriscar e ver até onde vai dar!
- Compro o seu remédio. Sigamos em frente: há várias farmácias.
- Não, vamos voltar. Para trás tem uma que vende mais barato.
- Não volto!
Escolhi uma e, do nada, atravessei a rua. Entrei noutra (coisas de Deus).
Ele ficou na porta, eu direto ao balcão. Pedi informação: só com receita, minha senhora, respondeu o vendedor.
De imediato expliquei: vê aquele homem parado na entrada? Vem me acompanhando, querendo dinheiro insistentemente, apresentou-me este fragmento de embalagem como necessidade. Vou devolvê-lo e volto. Aguardo um tempo até que ele se vá.
Abrigada, dois funcionários colocaram-se à porta observando o indivíduo que empacara frente ao supermercado próximo à espera da minha saída.
Passaram-se uns dez minutos até que me dei conta de que a farmácia escolhida ficava numa esquina. Saí pela porta lateral, fora do alcance de sua visão e cortei caminho.
Cheguei sã e salva!
Mais tarde, cumpri meu compromisso: assustada, não intimidada.
Tardes de domingo... onde estão as calçadas tranquilas?
Por onde passeiam as famílias?
Estariam meus almoços em tardes de domingo, quando sozinha, condenados ao delivery?
Rogoldoni
07 12 2014