SORAYA MANUELA, VOLTA PRA MIM.
Soraya Manuela estava radiante. Radiante como nunca. A tintura fez seus cabelos meninarem, nem ela mesma se reconhecia. Até o cheiro mudou. Daquele suor cansado, meio cambaleante, agora exalava uma mistura de pécora com alecrim. Aquela Soraya de alma rouca e olhar gosmento, agora deu à luz uma nova mulher. Mais abarrotada de seios enleitados até a boca, podia dizer que chegou lá - mesmo sem ter a mínima noção do que esse lá significaria. Lembra bem daqueles desejos cariados que agora, benza Deus, estão mais folguedos, mais folhetins. Lembra bem dos votos de saúde e fé que trancafiava nos ataúdes da alma a sete chaves. Quem a nota assim, tão respingada de si mesma, não desconfia que atrás desses óculos metidos a modernos está uma raposa que nunca fugiu do cio. Por trás dessa pele côncava e esgarçada está a balconista daquele cabaré de beira de estrada, perdido como os sonhos de todos que lá passam suas vidas. Por trás das mãos embebedadas pelas minhas saideiras, estão seus pedaços de chão ainda ocos e tardios. Soraya, menina, volta pra mim, volta de mim. Não vou morrer enquanto seu matulão estiver encharcado de sonhos. Não vou morrer enquanto Deus não for solto dessa nossa senzala sem misericórdia, e nem perdão.
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