FADUS REQUENTATUS
O tempo é um baita brincalhão. Trata a gente sem respeito nem orgulho. Goza da nossa cara, dos nossos instintos, da nossa cicatriz. O tempo é esdrúxulo, corcunda nas ideias, gosmento quando dá boas-vindas e servil quando toma o chá do adeus. Tempo que mal mastigo, indigesta as sereias que tento ser, os diabos que temo ser. Tempo é algoz de calças curtas, fado requentado, dormente de alçapão. Falo do tempo com escárnios todos, sem medo de rodar a baiana nem sair de fininho da festa. Carrego o tempo dentro de cada osso, de cada amante e de cada verão que passei trancafiado na cela 44. Posso dizimar seus filamentos de gorgonzola, posso fazer picadinho de cada vírgula que deixei de ancorar. Não importa. O que vale mesmo é esse smoking surrado que faço questão de vestir agora. Justamente agora que começamos nossa descabelada sonata de fé. Justamente agora que gemelamos nossas loucuras e tudo ficou mais fugaz e terno. O tempo se fartou da gente e foi embora. Embora com a gente, embora da gente.
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