QUANDO EU PARTIR
Naquela manhã, acordei antes do sol nascer, com atroz dor no peito, quase impedida de respirar e acabei ficando confinada numa UTI, em meio a uma parafernália de aparelhos, acometida de um infarto agudo do miocárdio.
Em meio à dor, cheguei a imaginar que minha missão havia findado.
Por alguns instantes pensei com horror na fauna cadavérica desde callphora, sarcophagas até tenebrios e ptnus, que vagariam pelas minhas entranhas saciando-se das minhas carnes, que estariam cinzentas e frias. Já não importaria a cor dos meus olhos, se teriam sido azuis, verdes, castanhos ou negros, depois de fechados todos tem a mesma cor.
Depois divaguei com enlevo como seria estar no mundo espiritual, leve, livre da dor, sentindo a plenitude da natureza pulsando no ventre do universo.
Antes que minha missão termine, gostaria de poder dizer aos meus, que a vida é como um breve sopro. É como a frágil flor que nasce na madrugada e fenece ao entardecer.
Enquanto os vermes famintos estiverem devorando meu corpo mortal, eu estarei em espírito sempre presente, todos os momentos, todas as horas.
Continuarei amando cada um de vocês como sempre amei.
Estarei no oscilar das cortinas ao sabor da brisa, nos quadros que pintei, nas linhas que escrevi.
Não questionem meu amor por vocês e não entristeçam quando eu partir, pois sei que em algum lugar restará um rastro de doce aroma do carinho, que lhes dediquei.
Uma fragrância que deverá durar a vida toda.
Levarei comigo, lembranças eternas das alegrias e de todos os momentos que desfrutamos juntos. Levo também os desencantos.
Com certeza as flores continuarão nascendo, o sol continuará brilhando e o esquecimento crescerá mais depressa nos seus corações, do que o cipreste à beira do túmulo.
Antes que o olvidar aflore, peço que façam uma prece, uma oração para que eu possa encontrar o caminho da luz e da sabedoria.