REENCONTROS
Bem no começo da manhã, quando o sol ainda estava fraco, seus raios atingiam vagarosamente os cantos do quintal, recebi a notícia pelas redes sociais. O assunto começou de mansinho, veio chegando e aos poucos a alegria que eu sentia começou a transbordar por meu corpo e se apresentou em um choro silencioso e sincero. Uma velha amiga que irá voltar.
A amizade antiga, sólida e carente iria, agora, se abastecer de braços, carinhos e de uma longa conversa na varanda, como antigamente. Conversa que não acabava mais, de um assunto a outro, sempre olhares compreensivos mesmo nos momentos de discordância.
Após a lembrança amorosa, me sentei, tomei um gole do café e comecei a esperar ansiosa o dia em que poderei suspirar fundo e olhar nos olhos daquela amiga tão querida.
Sempre esperamos que a vida nos surpreenda. Não sei se posso dizer que é um pensamento comum influenciado pela nossa cultura, cultura herdada dos nossos pais e do meio, mas posso afirmar que a maior parte de nós espera por este grande dia. Vivemos a mercê dessa espera.
Gostamos muito de viajar, para todos os lugares. Procuramos sempre uma rota diferente. Praia, serra, cachoeira, fazenda, cidades históricas, parques... enfim, o lugar que passará a ser o nosso lugar! E é isso mesmo o que acontece. Gostamos tanto de tudo e de todos que combinamos que iremos voltar ali, saborear novamente aquela comida caseira, descansar naquela praça, tomar banho naquela cachoeira. Meu esposo tem uma filosofia de viagem que acho bastante curiosa: para ele, os dias que antecedem a viagem, os preparativos, o trajeto, a espera até chegar ao lugar certo, e até mesmo perder o caminho (o que gera um atraso, uma emoção extra) é que é o mais gostoso. A expectativa que antecede o que almeja gera um prazer incomparável para ele, e confesso que passei a concordar com essa forma de pensar. Quando estamos efetivamente no lugar certo, desfrutando das possibilidades que estão à disposição, só nos resta dois sentimentos, o sentimento positivo ou o negativo, o gostar ou não gostar. Passamos a não contar mais com a dúvida. E é a dúvida que nos tira da situação de comodidade, que nos faz usar nosso potencial criativo, que nos faz levantar do lugar comum e ir à luta, mesmo quando se trata das emoções geradas por uma simples viagem.
Mais uma vez esperamos que a vida nos surpreenda. Mas não sabemos que a vida nos surpreende todos os dias, quando nos coloca contra a parede nos lançando a dúvida. Será que vai ser bom? Será que todos vão gostar? Será que fiz a coisa certa? Quando estas indagações nos incomodam, podemos nos sentir vivos e procuramos fazer o melhor de nós, para superar aquela situação e tirar o melhor proveito dela. Precisamos tomar decisões, modificar o que aparentemente está pronto, ouvir opiniões e acatar as decisões alheias. É um verdadeiro exercício de autoconhecimento. Conseguir domar os leões que estão dentro de nós nos momentos em que a emoção lidera. É muito trabalho para o raciocínio e a lógica.
Vários de nós mudamos tudo o que estávamos planejando nos momentos preliminares, e muitos de nós temos sucesso, outros continuam com a dúvida de que poderia ter dado tudo certo se tivessem continuado com o planejamento inicial. A lição que podemos levar para outras experiências é a oportunidade de poder decidir e aprender com isso. Ter a felicidade da ação, que sempre é positiva para nós.
“A amiga que está prestes a chegar” faz um bem enorme a qualquer pessoa. Quem nos dera se tivéssemos essa oportunidade de esperar alguém com tanto gosto, com tanta saudade. A espera traz a lembrança de como era nossa convivência naqueles tempos passados. Os pensamentos, os anseios, os amores, as inquietações, que hoje não são mais os mesmos. As pessoas mudam, não são mais as mesmas. De que adiantaria se fossemos iguais? Iriamos desvaler toda a Psicologia do Desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que passamos ter a consciência de que os reencontros podem nos ser úteis, somos movidos pela dúvida de como será esse reencontro e começamos a nos preparar, a nos melhorar, a dar o melhor de nós mesmos para surpreender. Os preparativos são os mais prazerosos porque geram dúvidas e concretizam mudanças, cada qual no seu tempo certo.
E quando já estamos preparados para receber a tão saudosa amizade, preparados para o reencontro, temos a certeza de que estamos melhores do que antes, nos surpreendendo desde o primeiro momento, proporcionando o reencontro de nós mesmos.