Uma Esperança no Criado-Mudo
O que sei sobre guerras limita-se aos livros de História e à mídia.
Alguns bombardeios sonhados são frutos da imaginação infantil: minha avó morava próximo a Campos dos Afonsos, onde se localiza uma Base Área. Sobrevoo de aviões era uma rotina.
Vivi uma revolução (ou o que preferirem os historiadores). Março, 1964.
Eu e minha mãe na rua para as compras do material escolar.
De repente o povo correndo para os pontos de ônibus, aos gritos:
- “Estourou uma revolução”!
No início, blackout. De onde morávamos ouvíamos os tiros de canhão nos vazios de moradia (onde treinavam os soldados de um batalhão do Exército localizado num bairro próximo).
Contava, então, 11 anos.
Disfarces, bandeirinhas do Brasil impostas, tiroteios inesperados no meio da rua.
Censura!
Na faculdade, idos 70, a situação piorou. O endurecimento chegava às salas de aula.
Salas invadidas, bombas de gás lacrimogênio sem saber o motivo. Diretórios Acadêmicos fechados. Irmãos de amigos desaparecidos, exílios, Copa de 70: “Pra frente Brasil!”.
Hoje sonhei com guerra: suja como todas as outras.
Um tanto diferente na forma de combate: roubos, estupros, ofensas, humilhações.
Celulares, bolsas, roupas e comida eram usurpadas pelas hordas furiosas, que percorriam as ruas atacando a todos.
Multidões de doentes esfregavam-se aos passantes gritando: você também será contaminado!
Acordei sobressaltada. Afinal, pesadelos não fazem parte da minha rotina.
Na verdade, acordei entrincheirada entre a realidade dos fatos embaralhados no (in)consciente das filas de hospitais, na decadência da educação, na (in)segurança e superfaturamentos de obras púbicas, leis desfocadas e uma esperança pousada no criado-mudo.
Rogoldoni
17 11 2014
O que sei sobre guerras limita-se aos livros de História e à mídia.
Alguns bombardeios sonhados são frutos da imaginação infantil: minha avó morava próximo a Campos dos Afonsos, onde se localiza uma Base Área. Sobrevoo de aviões era uma rotina.
Vivi uma revolução (ou o que preferirem os historiadores). Março, 1964.
Eu e minha mãe na rua para as compras do material escolar.
De repente o povo correndo para os pontos de ônibus, aos gritos:
- “Estourou uma revolução”!
No início, blackout. De onde morávamos ouvíamos os tiros de canhão nos vazios de moradia (onde treinavam os soldados de um batalhão do Exército localizado num bairro próximo).
Contava, então, 11 anos.
Disfarces, bandeirinhas do Brasil impostas, tiroteios inesperados no meio da rua.
Censura!
Na faculdade, idos 70, a situação piorou. O endurecimento chegava às salas de aula.
Salas invadidas, bombas de gás lacrimogênio sem saber o motivo. Diretórios Acadêmicos fechados. Irmãos de amigos desaparecidos, exílios, Copa de 70: “Pra frente Brasil!”.
Hoje sonhei com guerra: suja como todas as outras.
Um tanto diferente na forma de combate: roubos, estupros, ofensas, humilhações.
Celulares, bolsas, roupas e comida eram usurpadas pelas hordas furiosas, que percorriam as ruas atacando a todos.
Multidões de doentes esfregavam-se aos passantes gritando: você também será contaminado!
Acordei sobressaltada. Afinal, pesadelos não fazem parte da minha rotina.
Na verdade, acordei entrincheirada entre a realidade dos fatos embaralhados no (in)consciente das filas de hospitais, na decadência da educação, na (in)segurança e superfaturamentos de obras púbicas, leis desfocadas e uma esperança pousada no criado-mudo.
Rogoldoni
17 11 2014