Aeroporto Alegre
Viajar é uma delícia. Apesar do termo um tanto quanto afeminado, não existe outro adjetivo que tão bem classifique este verbo. Quem ousa afirmar não apreciar aquele momento pré-viagem? Arrumar a mala e escolher 18 trajes diferentes: “este se fizer frio, este se fizer muito frio, este se fizer calor, este se ventar, este se fizer frio e ventar...” para depois usar dois? Outro ponto alto é a ida ao aeroporto. Torna-se ainda melhor se para tanto for necessário acordar cedo. Dá a impressão de que você está realmente empenhado. Não tem tanta graça, almoçar, assistir TV e “ah, é verdade, tenho que viajar hoje”.
De qualquer forma, o aeroporto é um caso à parte. Não fosse tão fora de mão, pessoas deveriam passar suas tardes lá. Além de ter livrarias e onde comer – o que realmente importa num shopping – o aeroporto oferece a chance de entreter-nos apostando quanto tempo o Curitiba/Foz atrasará ou se o TAM 9696 consegue aterrissar antes do Gol 4381(coisa realmente impossível nos previsíveis shopping centers). Aeroporto, aliás, é mais um estado de espírito, uma fase de transição. Mais ou menos como estar em coma: seu corpo ainda está aqui, mas a mente já está num lugar melhor.
Embora numa menor proporção, a viagem de volta também possui toda uma expectativa. Caso o período de ausência tenha sido grande, há muito que absorver no retorno para casa. Porque, afinal, quem vai acompanhar o noticiário enquanto há uma praia chamando para um banho de mar ou um centro histórico pronto para ser desbravado?
Seja quem for o escolhido para lhe atualizar as notícias – mãe, taxista ou William Bonner – não receberá muita atenção. Pois, após uma bela duma viagem, quem se importa se a Bolsa de Xangai caiu 8%? Viajante dos bons já está planejando a próxima...