Invencionices Ortográficas
Olha aí, querida professora Angela:
Dia desses, na nossa Oficina de Poesia, no Colégio Albert Einstein, uma aluna mostrava um de seus textos começando por “eu pencei que era...”
Como éramos poucos na sala, ao ler o texto fiz o rápido comentário sobre a palavra “pensei” escrita com “C”. Alguns alunos riram e confesso que me senti inclinado a rir também. Mas logo expliquei que a aluna estava ali para, antes de tudo, antes mesmo de aprender poesia, que é coisa que não se aprende, a aluna estava ali para aprender a ler e a escrever. Embora fosse natural a nossa reação. Afinal vemos constantemente, há séculos talvez, o verbo “pensar” escrito com “S”. Aliás, depois de “N” vem sempre o “S”.
Contudo, ninguém deveria ser chamado de analfabeto, na acepção mais pejorativa do termo, só por escrever “pensei” com “C”.
Tanto isso é verdade que agora os caras que não podem deixar tudo quieto estão pensando numa (outra) nova ortografia em que, por exemplo, certas palavras vão perder o “H”, como “homem”, e o “CH” será trocado por “X”. Assim “chapéu”, “chave”, “chuva”, por exemplo, serão escritas com “X”. Tudo se resumindo numa questão de codificação ou convenção.
Imagina se a nossa aluna dissesse “eu pencei que era maior que a minha xave...”. Seria imediatamente considerada analfabeta e todos riríamos dela. O que não faria o menor sentido, se considerarmos as invencionices desses estudiosos da língua que não devem ter nada melhor para fazer. Ou cujo objetivo é confundir cada vez mais a cabeça de quem já fala português. E gerar outros motivos para novos preconceitos.
Rio, 21/10/2014