SOBRE A LENDA DE BILLIE JEAN E A AVENTURA DE SHERLOCK HOLMES PARA DESVENDAR O ENIGMA DA PIRÂMIDE
Eu estava pescando perto da curva do rio, onde as águas não eram revoltas e a paisagem era serena como as estrelas em volta da lua em noites vagas iluminando os arredores da casinha branca com janelas e portas pintadas de verde, tempos depois que os pássaros partiram em revoada, quando vi na outra margem dois amigos pescando sem nenhuma pressa. Já tive amigos assim na juventude, hoje, longe dos lugares onde vivi, procuro ficar mais em casa e pescar algumas vezes aqui onde estou.
Uma vez eu e um amigo resolvemos tirar um sábado longe do bairro, pegamos o trem em Bel até a Central, de lá fomos de ônibus até o Largo do Machado.
Primeiro fomos a um Centro Cultural no Catete onde havia uma exposição de cartazes e fotos de filmes de Akira Kurosawa. Tinha cartazes e fotos de Kagemucha, Dersu Uzala, Rashomon, Trono Manchado de Sangue, Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre e Os Sete Samurais entre outros e fotos de Akira Kurosawa, Toshiro Mifune, Takashi Shimura entre outros.
Depois do Centro Cultural paramos para comer e beber alguma coisa, ali estávamos livres, ninguém nos conhecia, ficamos um tempo e resolvemos ir ao cinema.
No Catete estava passando “A Lenda de Billie Jean”, filme inspirado em Michael Kohlhaas, trocando os cavalos por motos. Michael Kohlhaas é personagem do conto de Heinrich Von Kleist, filmado anteriormente em 1969 por Volker Schlondorff e lutava por justiça e por sua dignidade.
No Largo do Machado estava passando “O Enigma da Pirâmide”, filme inspirado no personagem Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle. A história era passada durante a juventude de Holmes que teria que desvendar o enigma da pirâmide.
Assistimos “O Enigma da Pirâmide” e após o cinema resolvemos ir andando até a praia de Botafogo, paramos em vários bares do caminho para muitas cervejas e doses de conhaque. De Botafogo esticamos até a Urca e sentamos em um bar de frente pra praia, conversamos sobre música, filmes, política, filosofia e por ai vai até que em certo momento eu disse:
- Não gosto de Nietzsche, não gosto de Maquiavel. Gosto de Erasmo de Rotterdam, de Thomas More. Gosto de Ingmar Bergman, Godard, Alan Rudolph e John Ford. Gosto de Mary Pickford, Jane Fonda e Al Jarreau.
- Não gosto de filosofia ou política. – Disse ele – Gosto de cerveja, pagode, praia e Flamengo.
Meu amigo é apaixonado pelo Flamengo. Nunca o presenteei com uma camisa do Flamengo, talvez o faça um dia, antes ou depois do Alasca.
Você já amanheceu na praia, perto do Pão de Açúcar? Se não, saiba que não existe nenhum lugar tão lindo quanto o Rio. No Rio o sol do amanhecer e do entardecer banha o Pão de Açúcar, o Corcovado, o Maracanã e os bares como em nenhum do lugar do mundo. No Rio você pode saborear uma cerveja com um amigo sentindo a liberdade de verdade.
Até hoje quando eu e meu amigo nos encontramos para umas cervejas um de nós sempre pergunta:
- Você se lembra do Enigma da Pirâmide?