A relação homem vs. natureza na literatura: as visões de Camões, Melville, Hemingway, Pessoa e Camilo Castelo Branco

O conflito do homem com a natureza sempre foi um tema presente na literatura universal, desde os seus primórdios, com o conceito de que a natureza diz respeito ao mundo físico.

Na antiguidade, a presença do Paganismo era mais forte comparada aos dias atuais. Os pagãos tem a ideia de “mãe natureza”, esse termo foi expressamente criticado pela Igreja Católica, que considerava o termo abusivo e impróprio, pois mãe é quem cria, e em sua crença a natureza não criou nada, mas sim foi criada. O cristianismo respeita a natureza, porém ela assume a figura de irmã, essa é a linha de pensamento de São Francisco de Assis no “Cântico do Irmão Sol” e também de Hemingway. No seu romance “O Velho e o Mar” (1952), que acabou se tornando uma de suas obras mais famosas, ele disserta no livro inteiro diretamente sobre a relação do homem com a natureza. Chegando a conclusão de que o homem pode vencer o homem, mas o homem não pode vencer a natureza.

Uma das vertentes do monoteísmo é o antropocentrismo, essa concepção considera a natureza submissa ao homem. Essa também é a visão de Camões em “Os Lusíadas” (1578), de Fernando Pessoa no poema “O Mostrengo” e de Herman Melville em “Moby Dick” (1851). No livro, Camões narra a viagem da esquadra comandada por Vasco da Gama e descreve o Gigante Adamastor, que representa a natureza, como um monstro, cujo qual reconhece a audácia dos portugueses. No poema, o mostrengo é descrito da mesma maneira, para Pessoa, o homem e sua cultura se impõe e vence a natureza através da ciência e da coragem. “Moby Dick” é um romance que narra a história de um caçador de baleias, que acaba perdendo uma das pernas e passa sua vida inteira perseguindo a baleia. Quando ele a encontra, tenta matá-la, mas ela acaba matando todos os tripulantes do bote, inclusive seu melhor amigo. Nesse caso, a baleia personifica a natureza, e é descrita em aspectos e proporções monstruosas. Resumindo a visão de Melville, se o homem enfrentar a natureza, o homem sempre perderá.

Um caso a parte acontece no livro “Coração, cabeça, estômago” (1861), de Camilo Castelo Branco. Nele o protagonista sofre uma desilusão amorosa, e procura uma floresta para que a natureza o console, porém começa uma ventania e ele acaba perdendo seu chapéu.

Partindo pra Filosofia, a frase mais conhecida desse eterno conflito é “o homem é o lobo do homem”, de Thomas Hobbes. Deixando explícito seu pensamento de que a natureza é precária, a cultura e a ordem são essenciais. Jean-Jacques Rousseau é considerado um dos principais filósofos do iluminismo e precursor do romantismo, tem uma visão completamente contrária a de Hobbes, ele criou o “Mito do Bom Selvagem”, nele a natureza é boa, a cultura é quem perverte e corrompe o homem. O Romantismo possui a influência clara de Rousseau.

O conflito homem x natureza não acontece somente na literatura e na filosofia, ele está presente na sociedade contemporânea. O homem mantém uma relação estritamente capitalista com a natureza, uma prova viva (ou nem tanto) é o desequilíbrio ambiental. Mas ainda é possível modificar essa realidade e o único caminho é a sustentabilidade.

Janaina Lohmann Hofman
Enviado por Janaina Lohmann Hofman em 08/10/2014
Código do texto: T4991567
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