Pedras misteriosas
"Na minha infância chuva era motivo de alegria, encantamento. Fazíamos barquinho de papel para a enxurrada levar e ficávamos fazendo algazarra até que ele sumisse das nossas vistas. Quando chovia granizo, então, era uma festa. Pegávamos aquelas pedras misteriosas que vinham do céu e colocávamos em outro céu; o céu da nossa boca. Saboreávamos como se pudéssemos desvendar tal mistério, simplesmente deixando-as se desfazerem lentamente. Unindo céu, corpo e alma em uma dança frenética ritmada pelos pingos da chuva que acompanhavam a sinfonia da natureza. Abríamos os braços, olhávamos para o céu e deixávamos que os pingos invadissem a nossa boca. Nossas roupas ficavam coladas aos nossos corpos, e o calor que emanava dele, contrastava com o pingos gelados. Hoje, tarde de domingo, meu filho e um sobrinho estão jogando video game, enquanto eu observo a chuva cair com milhares de pedras misteriosas. Minha boca parece guardar consigo o sabor daquelas pedras que tanto me encantavam e começa a salivar. Liberto a criança que existe em mim voo no tempo e colho alguns recortes de uma época feliz e os transmito em forma de palavras..."