"Carolina Von Koseritz" ou "Uma Grande Mulher".
Crônica-“ Carolina Koseritz” ou “Uma Grande Mulher”.
Dia desses, ao reler “O Pequeno Príncipe”, em uma nostálgica tarde em Porto Alegre, recordei de outra tarde similar em minha infância quando, debaixo da grande parreira da casa de meu avô ,Dona Laura Koseritz Pereira da Cunha e Cunha , minha avó e ,antes demais nada uma bela morena, filha de Antonio Carlos Pereira da Cunha, grande jurista, poeta, político e que lançou a candidatura de Getúlio Vargas ao Brasil aqui ,na Praça da Matriz, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul e do qual recebeu anos após um cartório em agradecimento a seus grandes méritos e que foi, também o primeiro advogado a defender um negro em plena colônia alemã, ganhando a causa, e casado em segundas núpcias com Zeferina Koseritz a quem dedicou vários poemas de amor, pois bem, disse me Dona Laura nesta ocasião:-Suzana, tu aí sentada, com teus cabelos louros, lembrou me a Carola, a Carolina Koseritz, escritora, poeta , e filha dileta de Carl Friederich Gustav Von Koseritz, minha amada tia.
Pouco se lembra, nos meios políticos e entre os advogados De Antonio Carlos Pereira da Cunha, mas alguma coisa sempre subsiste...
Carl Gustav Von Koseritz, pai de Carolina, nobre alemão, foi degradado de Berlim por seu pai aos dezoito anos por ter se metido em um movimento liberal e por sua forte simpatia aos judeus. Com a idade de 18 anos desembarcou em Pelotas, Rio Grande do Sul, sem um tostão, bolsos vazios e com uma tristeza e nostalgia da pátria, da mãe , dos irmãos...Houve que lutar para comer e passou a dar aulas de francês,i nglês e alemão, idiomas em que era versado e, contiguamente absorvia o português, língua da qual não sabia uma palavra. A duras penas se formou em Jornalismo e passou a escrever em diversos periódicos, e foi adiante, começou a fundar jornais em diversas cidades e, persistente, seguia escrevendo e publicando. Em pouco tempo se fez conhecido e iniciou a se corresponder com Darwin, Freud e Romain Rolland. Lançou seu primeiro livro que foi um apanhado da côrte brasileira, um livro irônico e sarcástico sobre os seguidores de Dom Pedro Segundo. Tornou se figura indispensável nos meios intelectuais e ganhou o nome de uma linda rua que persiste até os dias de hoje e que não lhe foi tirada na época da segunda guerra quando todos os alemães em geral perderam os nomes de ruas. Era admirável humanitário, darwinista e abolicionista!
Vinte anos após seu degredo, voltou à Berlim, e sendo já conhecido mundialmente, ao desembarcar do avião ,foi tocado, a mando do governo alemão, o hino nacional da Alemanha conjuntamente com o do Brasil.
Tal foi o pai de Carolina Koseritz, sua filha mais moça e amada. Porém ,se Carl Gustav Von Koseritz tinha paixão por esta filha, ela ,em tudo,o incorporou e se identificou com ele. Mulher bela, muito feminina ,apaixonou se pela escrita do pai, e, como ele, começou a escrever freneticamente, poesias, contos, crônicas, traduções de Goeth e livros e, como ele, era liberal, humanitária e intelectual ,e, tanto era seu amor pelo pai que, aos seis anos ,pediu para passar o dia com ele na cadeia, quando Karl lançou artigos contra o governo Republicano.E passou.
Carolina casou cedo, tendo dois filhos. O marido, homem de posses, entretanto violento, passou a dar surras em Carolina sem motivos e, em uma época em que era habitual as mulheres apanharem porem permanecerem casadas a fim de manter as aparências, Carolina se desquitou. Sózinha, sem posses, isolada por homens e mulheres preconceituosos e invejosos da sociedade da época, passou a fazer doces para se sustentar e aos dois filhos. Seguia escrevendo às madrugadas. Um homem, poeta e escritor do Norte do país, riquíssimo, do qual ,perdoem não citar o nome, em visita a Porto Alegre, dela se enamorou e, percebendo a hostilidade em sua volta ,levou a para viver com ele no Norte, longe do antro de víboras. Não casaram,porque era negado o casamento, mesmo no civil, para os que se divorciavam neste tempo. O grande amor dos dois teve sua morte aqui, na cidade natal de Carolina, agora agraciada ,na velhice, com uma cadeira na Academia Sulriograndense de Letras e o nome de uma rua. Seus trabalhos, seus escritos ,foram pouco conhecidos e divulgados e se varreu quase toda as suas lembranças no Rio Grande do Sul, restou o nome de uma cadeira em uma academia de pouca expressão hoje em dia...
Carl Friederich Von Kozeritz,ficou com seu nome de rua, mas é pouco lembrado pelos jornalistas e escritores daqui, embora suas grandes colaborações. Uma sala em uma casa ou museu em São Paulo guarda o “souvenir” deste grande lutador pela imprensa, pelo Brasil e a economia brasileira da época, pelas letras e quão mais...
Há poucos anos atrás ,veio se sentar comigo em uma reunião de conhecida sociedade de poetas e escritores aqui em Porto Alegre uma senhora, historiadora de figuras femininas e que escreveu sobre Carolina, dizendo :
-Tu, Suzana, és sobrinha da Carolina, dona da cadeira 15 da Academia de Letras feminina do Rio Grande do Sul, não?
-Sim sou, respondi, esperando, lógico, receber um elogio à Carolina, minha tia.
-Pois tua tia, Carolina, foi concubina de um escritor nortista sabias?
Muda, espantada, esfriada, com o coração ferido, saí desta reunião e nunca mais voltei...
Suzana Pereira da Cunha Heemann.