O PROFESSOR DE PORTUGUÊS
CRÔNICA DE VALDEZ JUVAL
É sempre prazerosa a recordação do tempo em que se inicia uma vida profissional.
Fui morar no interior.
Logo ao chegar para assumir o cargo de Promotor de Justiça, sofri assédio (no bom sentido) de um ex irmão marista. Era Diretor do Colégio Estadual da cidade.
Fazia-me um convite - mais que um convite - um apelo, para ajudá-lo na crise com a falta de professores e muito especialmente na cadeira de Português. (Também sou pós graduado em Pedagogia Educacional).
O único existente era um padre que deixara a batina para se casar e iria embora da cidade.
Fiz inúmeras ponderações mas não pude deixar de atender o "Irmão" desde que se conciliasse os meus trabalhos na Comarca.
A minha primeira preocupação foi de saber qual era o método de ensino do ex professor.
Tudo era na base do grego e do latim.
O que iria fazer numa sala de aula se até hoje nunca aprendi uma só palavra de grego... e do latim apenas tinha decorado um trecho da catilinária para me submeter a exame de vestibular?!
"Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?..."
Serviu-me de inspiração! Tratei de reler o discurso de Cícero, traduzido, claro, e me adverti que na leitura está a melhor maneira de se aprender.
Livrei meus alunos de se preocuparem com o desentendimento entre Brasil e Portugal na conjugação do verbo "berrar"; o que é Semântica (paronímia, polissemia); conotação e denotação na Estilística; ortoépia/ prosódia na Fonética e por aí a fora...
Distribui como tarefa doméstica, para cada um, sem repetição de título, a leitura de um livro que seria exposto e discutido em sala de aula pelo próprio aluno quando fosse chamado.
E assim as aulas tiveram uma atração especial e conhecimento dos autores nacionais pelos jovens. Com a leitura, a aplicação da gramática (sem “arrodeios” ou nomes feios).
Certa feita, na interpretação de um livro de Raquel de Queiroz, perguntei se não estava errada a forma de se iniciar uma frase com a variação pronominal.
Encontrei quem respondesse citando a coluna “Escreve o Leitor” de uma revista famosa na época que, para pergunta semelhante, dizia ser forma ou estilo da própria autora.
Sem comentários, agora... Lógico que na sala apresentei argumentos pessoais, com o devido respeito à opinião do comentarista e a forma de escrever da imortal.
(Todavia, contudo, porém... Que falem os gramáticos antes que me torne um escritor famoso).
O tempo foi passando e fui me deparando com tantas outras coisas que nem Aurélio, Houaiss e outros vernaculistas saberiam explicar, notadamente com o advento da nova linguagem na Internet.
De mim, afirmo com freqüência que não sei falar e escrever a minha língua exceto o meu próprio nome pois o copiei, letra por letra, da certidão de nascimento.