A RETRIBUIÇÃO DO BEIJO
Crônica de Valdez Juval
Reencontro Tieta.
Apesar dos pesares, risonha, alegre, feliz.
Falou-me de sua satisfação quando leu o email que havia lhe endereçado com o preâmbulo: ”Crônica simples, infantil, sem pretensão. Um “RECUERDO”, talvez.”
- É lógico que li a sua crônica “O QUINTAL DE MINHA CASA” –disse-me ela. E continuou: - Nunca esqueci aquele instante de arrebatamento e as consequências daquele beijo. Pareceu-me, na época, que eu era um demônio, roubando de um anjinho toda a pureza que ele irradiava. Por aquele gesto você ficou muito tempo sem falar comigo. Confesso que somente agora fiquei sabendo que meus seios lhe provocaram tamanho frenesi. Não foi proposital, garanto. Naquela época os sutiãs não eram usados pelas precoces.
Mas o tempo, fator inexorável da nossa existência, está destruindo aquela mulher. Ainda mostra na face a sua beleza singela e irradiante apesar das rugas implacáveis. Anda tropegamente, bastante curva, alquebrada, ajudada por uma bengala para não tropeçar no primeiro grão de qualquer coisa que possa atropelar a sua passagem.
Ainda me disse: - Hoje, veja quem sou. Não tive o direito de querer ser.
Abracei-a.
Um forte abraço trazendo o seu corpo para colar em meu corpo, um corpo definhado, de seios murchos, arriados que nem era mais necessário fazer uso do sutiã.
E nas rugas bem acentuadas daquela face, beijei-a. Beijei-a com muito carinho, amor e saudade.