VELHO MONTEIRO.
Hoje senti saudade, muita saudade de um velho companheiro que durante algum tempo tive a oportunidade de chamar de avô e esse velho tinha o nome que ele me presenteou, Antonio, antes eu achava um pouco estranho, parecia um nome antigo, mas depois que cresci passei a adorar me chamar Antonio, ainda mais por ser a homenagem a um homem de verdade, um homem que se forjou a ferro e fogo, um cara teimoso, cheio de atitude, forte em suas resoluções, mas também carinhoso e de um coração tão grande que acabou por abrigar em sua casa e em seu coração, filhos que não eram seus, filhos que vieram do mundo e bateram certinho na casa daquele senhor que os acolheu como um verdadeiro pai.
Foi desse senhor que eu senti saudade, do velho Monteiro como era conhecido. Sempre que posso, conto ao meu filho às histórias que me foram passadas, histórias tão vivas e tão marcantes que parecem ter surgido de um livro, um livro que conta a história de uma vida, um livro belo e cheio de verdades, cheio de humanidades.
E nessas lembranças me veio uma lembrança especial, uma lembrança só minha, onde, sempre que ele chegava em casa com sua blusa de cetim ou outro pano que em minha meninice eu não soube identificar, seu chapéu feito de um tipo de nylon e suas calças sociais ao estilo dos anos 70, ele sentava-se a mesa e minha avó lhe trazia um belo prato de sopa que ele lentamente degustava com um bom pedaço de pão, eu ia chegando bem de mansinho ao lado dele e lhe tomava a bênção, ele sorria, dava para sentir a satisfação em seus olhos e depois da bênção me dava um beijo, o contato daquela barba rala o seu carinho que vinha junto com o beijo, ficaram marcados em mim, é tão forte que quando lembro eu chego a sentir tudo outra vez, é como se aquele momento se repetisse eternamente e na verdade ele vai mesmo se repetir, pois ficou marcado em minha memoria, ficou registrado no campo das boas lembranças e ficou para sempre, como um presente, de um carinho que só os avôs sabem dar.
Foi por pouco tempo que convivi com ele, seu tempo foi curto nessa terra de meu Deus, mas o importante é que eu soube aproveita-lo, soube sugar de sua rigidez, o carinho que todos nós trazemos, em alguns ele esta mais a flor da pele e em outros, ele precisa de um escavador experiente que saiba identifica-lo como uma pedra preciosa que mesmo suja, não deixa de ter o seu valor. Assim era o velho Monteiro que foi pai, foi amigo e foi avô.
Eu de minha parte em minha humilde condição, quero ter a dádiva de envelhecer, quero poder segurar meus netos como um dia segurei meu filho, quero poder cheira-los como o animal faz com suas crias e quero dar um beijo daqueles...com a minha barba rala, que vai deixar uma saudade que a gente não esquece jamais.