Crianças da Internet
 
Dizem que o computador é máquina de fazer doido. O que me leva a pensar nas loucuras proibidas e permitidas do mundo virtual. Nas proibições, estão o furto de dados, a violação de direitos autorais, a exposição indevida de crianças e outros delitos, alguns reconhecidos por leis recentes. Fora da lei há os pecados, são tantos!... O vício de dar uma espiadinha na caixa de mensagens, curtições no Facebook, notícias no Twitter, imagens no Instragram, etc. É por aí o vão das horas. Quem escreve no ambiente virtual, não consegue imaginar o que era para os antigos escritores aguardar dias e dias pela opinião dos leitores. Alguns, mais reticentes, nem o queriam, preferindo o anonimato ao longo da vida ou dos séculos. Essa espera não cabe agora. A infância esticou, permitindo às crianças da internet postagem de textos e imagens, com instantâneos afagos ou alfinetadas do outro lado da tela. São crianças de todas as idades, dos pequerruchos aos nonagenários. Bastam dois dedinhos, visão razoável e gosto pela exposição de ideias ou imagens, sejam próprias ou por empréstimo de outros, com os quais normalmente concordamos. Quem carece de fama, se coloca sob os holofotes dos famosos. Eu posto, tu postas, ele posta, todos curtimos!! Curiosamente, surgem tacitamente regras de etiqueta. Eu comento, curto e cutuco você, mediante retribuição de comentário (elogioso, é claro!), curtição e cutucão de sua parte. Sem essa reciprocidade, magoo. Fico emburrada no meu canto, formulo hipóteses para justificar porque a raposinha não liga mais para a sua rosa. Sendo das mais carentes, abro o berreiro drummondiano para saber por que me abandonaste, se sabias da minha fraqueza? É um mundo novo, onde até nossa identidade sofre mudança. Triste daquele que postar comentário em desacordo com o desejo do dono da página. Salvamos ou perdemos amigos com único clique. Nessa brincadeira, Deus nos livre de ficar sem conexão!


©imagem: meriam lazaro